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A Rainha da manipulação: uma amante tendenciosa

 

O ano de 1964 marcou o início do poderio ianque na história da nossa sociedade. Representado pela Ditadura Militar, a podridão invadiu nossa mídia deixando uma herança até os dias atuais.

 

Katherine Changanaquí

 

Esqueceu-se após o Golpe a utopia de imparcialidade jornalística refletida na imagem da Globo. Para alguns, a ilegal, errada, torta e criminosa desde sua criação e, para outros, a representante do padrão de informação no Brasil.

 

No entanto, foi a “nossa” Globo tendenciosa que apoiou a ditadura, expressando nas linhas de um editorial que esta era a única alternativa para restabelecer a democracia e a ordem do país frente às ameaças comunistas. “Perigo” representado pelo presidente João Goulart (Jango), que mais tarde perderia o poder perante as Forças Militares – ligados a forças americanas –, que tinham interesses aliados com a nossa imprensa. Uma realidade custosa de aceitar.

 

Uma das frases do editorial do Globo em apoio a ditadura, publicado dia 2 de abril de 1964 (início da ditadura), explica:

 

“Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo.”

 

Madrugada do 14 de janeiro de 1974 – Com apenas um ano e oito meses, Carlos Alexandre Azevedo, filho do político e jornalista Dermi Azevedo, sofreria as consequências da sanguinária ditadura. Em vingança aos seus pais, os quais lutaram ideologicamente contra o poder militar, o pequeno foi torturado com choques elétricos pela “equipe” do delegado Josecyr Cuoco, subordinado de Sérgio Paranhos Fleury, na sede do DOPS.

 

A vida de Carlos nunca mais foi a mesma. A fobia social e a depressão acompanharam seus 40 anos de vida até desistir da tentativa de se sentir normal e cometer suicídio.

 

Então cadê os direitos individuais não afetados? Eles estão representados na tortura de uma criança pelos militares. A história de Carlos Alexandre é a realidade de muitos.

 

Mas para a Globo estas partes da história foram esquecidas e não há registro das feridas abertas que a ditadura deixou. Nas suas publicações foram acobertados diversos crimes e difundidas notícias favoráveis ao governo. “Revolução” e “Terroristas” foram os termos preferidos para justificar a “tortura” de cidadãos e os abusos contra a sociedade. Mas o termo “tortura” nunca apareceu no jornal, assim como o escândalo do Riocentro, a Operação Bandeirantes e a Operação Gasômetro – todos sinónimo de morte sempre omitidos.

 

De nada adianta a justificativa da Globo sobre o medo e a censura imposta pelo Ato Institucional número 5, quando sua expressão também ficou limitada, se fora disso via a intervenção militar com bons olhos.

 

Em entrevista ao Canal da Imprensa, o jornalista Gabriel Priolli, autor do livro a Deusa Ferida, revela que existiu uma leve resistência por parte dos meios de comunicação na época a ditadura. Mas foi a Globo a que menos ajudou neste processo – uma vez que a rede, aliada à interesses americanos, provia de vários benefícios fiscais, além de equipamentos, verbas e projetos de expansão em todo o país.

 

A Globo e seu umbigo

 

A ”nossa” Rede Globo nunca se interessou pela realidade nacional e provavelmente também não foi uma aliada sincera da ditadura. Ela se preocupou com os próprios interesses, favorecendo a ditadura quando outorgava benefícios e a deixando de lado quando atrapalhava seus negócios.

 

Foi assim que na história do Brasil ela foi CORRESPONSÁVEL pela imposição da ditadura, mas também pelo seu fim com a difusão da campanha Diretas Já.

 

O Globo: Um jornal ao serviço da economia

 

Em agosto do ano 2013 após os protestos pela redução da passagem aliados a gritos de “a verdade é dura: rede globo apoiou a ditadura” – devido às matérias tendenciosas que a emissora passava sobre as manifestações –, a TV dos Marinhos reconheceu que foi um erro ter apoiado o golpe militar de 1964. Uma estratégia para mostrar que apoia os interesses da democracia.

 

Porém continuou se justificando. Chegou a manifestar que igual a outros jornais como Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil, só apoiou a ditadura com a tentativa de evitar o poder do comunismo, isso enganada na falsa promessa de uma intervenção militar passageira.

 

Perante os princípios do jornalismo existe a imparcialidade, que mesmo na ditadura permitiria ao veículo se manter ileso sem defender algum interesse particular. Mas a empresa dos Marinho apoiou a ditadura ativamente, não por obrigação, e sim por escolha, deixando de fora a ética jornalística.

 

Esta é a eterna realidade da mídia no Brasil. Partidária em interesses políticos e a favor de onde há poder econômico.

 

De nada adianta o Mea Culpa da Globo – apesar da importância política –, pois a história continua sendo a mesma. No passado Goulart perdeu o poder, anos mais tarde as tentativas se repetem com o intuito de derrubar Lula e agora Dilma. É por isso que hoje a Globo, outrora vil serviçal dos interesses políticos, é aliada ao poder econômico. O dia em que sua postura se tornar realmente democrática, será o dia em que o reconhecimento do seu erro ao apoiar a ditadura for provado em um noticiário imparcial. E então aquele pedido de desculpas se tornará significativo.

 

Mas esta realidade está longe de ser alcançada. Vivemos no país dos interesses onde a mídia defende o que lhe produz benefício. Onde empresas de comunicação parcializadas fingem informar a realidade de nosso povo. Mas isso é utopia, porque elas seguem lutando para beneficiar seus próprios interesses.

 

A manipulação da informação virou moda e nos deixou em um abismo sem saída onde noticiários apresentam interesses privados como se fossem públicos. Um Brasil onde pisoteamos a memória da nossa história e impedimos o avanço de uma real democracia.

 

A Globo continua sendo a nossa preferida e sua programação diversa nos cegou e alienou para esquecermos das lembranças das nossas feridas deixadas pelo Golpe de 1964.

 

Esse é o nosso Brasil, onde as esperanças de uma mídia imparcial morrem dia a dia de overdose.

 

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