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Ditadura cantada

 

Nathália Lima

 

A música de Renato Russo já questionava o andamento da situação do Brasil há 36 anos atrás. “Que país é esse?”, indagava ele. Um País violento, perigoso, onde só se “pisava em ovos” sem poder falar tudo o que se pensava (ou nada). Essa era a situação na qual os brasileiros se encontravam. A canção “Cale-se”, de Caetano Veloso e Milton Nascimento, era a representação diária e constante do que estava na pauta da sociedade. Ao tomar o “cálice” das atrocidades feitas pelos “milicos”, ainda era necessário calar-se. Não sofria-se em apenas um âmbito. A desgraça era geral.

 

A ditadura militar representa um marco histórico para o Brasil. Na época (e até hoje), a música teve grande influência no que veio a ser o golpe e em quais foram suas consequências. Usando esse estilo de influência, artistas tentavam desmascarar o governo cantando em forma de “parábolas sambantes”. O sucesso das músicas foi tanto que causou repressão por parte da mídia e do próprio regime.

 

Muitas das cantigas da época foram censuradas por mostrar implicitamente a opinião de seus autores, que se posicionavam contra o atual governo. Gilberto Gil, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Chico Buarque, entre outros tantos foram proibidos pelo regime de cantar suas opiniões ao vento e explorar o que significava liberdade de expressão (mesmo que utópica até então).

 

“O bêbado e a equilibrista” – denominada como “canção da liberdade e hino da anistia”, de Aldir Blanc e João Bosco, interpretada por Elis Regina, é um exemplo de música que sofreu censura. Embora não falasse de maneira explícita a opinião política dos autores, comentava sobre injustiça, saudade, ironia e um pouco de esperança ferida, porém existente. Já na época, o povo sabia que “brasileiro não desiste nunca”, ou melhor, não perde as esperanças, embora tudo prove o contrário.

 

O castigo para alguns (ou muitos) dos músicos esquerdistas da época da ditadura foi o exílio. Temendo uma rebelião ainda maior, o próprio regime militar expulsou (é isso mesmo!) os cancioneiros de sua terra natal. Além de tirar-lhes o direito de opinar, foi arrancado deles o poder de permanecer em casa. A música “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, de Roberto Carlos, não teve sua inspiração oriunda de uma mulata dos cabelos encaracolados que estava longe de casa, vivendo o “sonho” de ganhar a vida em São Paulo. A canção foi dedicada ao também cantor e compositor Caetano Veloso, que havia sido enxotado do Brasil pelo governo. Roberto, pensando no amigo e em tudo o que ele sofria com o exílio, escreveu essa música e foi ao seu encontro cantar pessoalmente.

 

Enfim, o que tenho a dizer em relação à ditadura militar? “Apesar de você”, tudo (ou quase tudo) voltou ao normal. Agora tenho o poder de voto, a democracia praticamente reestabelecida. Entendo e defendo que “É proibido proibir”. Não ficarei por aí apenas reclamando da vida. Sei que o caminho é longo e lutarei por meus direitos até o fim. Mas também entendo que existimos apenas uma vez e devemos viver de maneira coerente e, ao mesmo tempo, insana. O lado bom existe hoje e continuará existindo se assim eu quiser que aconteça. Percalços existem, mas coisas boas compensam. Digo e repito isso “Pra não dizer que não falei das flores”.ional.

  
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