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O fruto proibido

 

Na receita de como não se aproximar das drogas da Conexão 2.0, espiritualidade é o principal ingrediente. Sem análises aprofundadas sobre os entorpecentes, a revista garante que religião é o melhor ópio que o povo pode querer.

 

Emanoel Junior

 

Envolta por uma cobra, a erva – chamada de proibida em letras garrafais – já chama a atenção na capa. Espanta mais ainda por a capa ser de uma revista religiosa. Prometeu ser polêmica, a menina. E cumpriu. Com a promessa de tornar qualquer pessoa um bom ser humano, a publicação sugere passos simples como boa convivência com os pais, amigos, autoestima, comprometimento com os estudos e, claro, frequência à igreja. 

 

  Chega a parecer ingênuo. Com algumas referências médicas e pesquisas realizadas em instituições parceiras da revista, fica claro ao leitor que qualquer “treco” que você colocar na boca e estimular seu sistema nervoso central te impedirá de ter uma vida normal. O que esquecemos é que vivemos cercados de muitos produtos que estimulam nosso cérebro, sejam eles artificiais ou naturais. Ou seja, devemos negar influências que nos distanciem da perfeição. Nada de amigos usuários, nada de morar perto de bares ou biqueiras. Problemas de autoestima? Esqueça.

 

Em uma revista voltada para o público jovem, aspectos que realmente tem contribuído para desvirtuar mentes ingênuas devem ser ressaltados. Falta de informação e, consequentemente, de reflexão sobre assuntos-chave geram ações imaturas. Por exemplo, classificar a maconha e o crack em um mesmo grupo de entorpecentes, pelo simples fato de serem fumados, fortalece um preconceito antigo, baseado em noções rasas sobre a complexidade de cada produto. Isso transmite àquele que lê ignorância em relação ao assunto.

 

 Por outro lado, o periódico foi feliz em alertar para os perigos do álcool e do cigarro, muitas vezes deixados de lado pela mídia por questões publicitárias. Com um pouco de conhecimento previamente adquirido sobre o assunto, o leitor consegue refletir sobre conceitos espirituais, sociais e emocionais para, na hora de se aproximar de algum psicotrópico, tomar a decisão com consciência – seja ela de experimentar ou não. Noções básicas de cuidados com o corpo destacadas na reportagem, como a prática de esportes, inserem o cidadão em situações de desafio, com as quais ele tem que ter maturidade para resolver.

 

 No entanto, relacionado ao que é dito na revista, a ideia de que religião afasta as pessoas do consumo de psicoativos é um pouco equivocada. A utilização dos mesmos se dá, primeiramente, por curiosidade, coisas comuns à juventude que busca conhecer, entender o mundo à sua volta. Curiosidade essa que, também se aplica a pessoas envolvidas com religião – guardadas as devidas proporções, claro. Quem mergulha de cabeça nas questões espirituais também deseja encontrar respostas. O que a religião produz, talvez, seja certo discernimento, certo exercício de imposição de limites, certa consciência de abnegação. Mas, não se engane! Religiosos ou não, curiosos somos todos.

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