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A questão do argumento

 

Esta edição do canal, como já se tornou óbvio para você, caro leitor, vai tratar sobre a mídia e suas posturas em relação à campanha para descriminalizar a maconha. E indo ainda mais longe, não trataremos exclusivamente de como a mídia fala a respeito do tema, mas do próprio tema em si. Os porquês, os efeitos, as possiblidades... Porque descriminalizar a maconha? Porque não?

 

Perguntas pertinentes, claro, neste contexto em que nos inserimos como cidadãos e como jornalistas. Ainda que me congratule (interiormente) pela iniciativa de tratar a temática (em um trabalho excepcional realizado por nossa equipe), sinto, conjuntamente, uma espécie de leve indignação, até revolta. Nossa revista eletrônica fala sobre a atuação da mídia, essencialmente. Logo, ela está no nível “2” da cadeia da informação. O nível “1” da cadeia, em que se inserem os periódicos sobre os quais falamos, é aquele que forma, informa, debate, esclarece, prepara, ensina, constrói argumentos.

 

Sim, é exatamente isto. Construir argumentos é preciso! E, além do que, é obrigação do jornalismo como prestador de serviço. O que vejo, no entanto, é uma lacuna nesta função. No trabalho de construção das vozes. Porque o Canal da Imprensa deveria falar sobre os porquês de se descriminalizar ou não a cannabis? Bem, precisamos falar porque os demais tem sido reticentes na abordagem do tema e na construção dos argumentos que definem os dois lados da questão.

 

Tabu? Medo? Comodidade? O velho e bom conservadorismo do politicamente correto? Certamente. O que me indigna, volto a este ponto, é o fato de que há um déficit na abordagem de um tema que nada tem a ver com o “fazer apologia às drogas”. Vejam bem, o que proponho não é sair por aí publicando todo tipo de discursos que levantem a bandeira “vamos descriminalizar”, tampouco sou favorável à constante abordagem conservadora, politicamente correta, dada pela maioria dos periódicos ao “não às drogas”. O que proponho é o debate, é a discussão. Que ouçam as vozes, que publiquem os argumentos (a favor e contra), que discutam as pesquisas médicas, que tornem acessíveis à população argumentos intrincados do campo da saúde. Enfim, que haja riqueza, volume de fontes, de vozes, para que não existam dúvidas quanto às vantagens do “legalizar ou não”.

 

Precisamos ser vanguardistas. Perder o medo de falar de coisas que, somente por nosso silêncio, vão crescendo e se tornando monstros amedrontadores no imaginário do povo. Se sou a favor ou contra, pouco importa. Sou a favor da liberdade de escolha e do exercício do discernimento. Coisas que, somente se tornam possíveis, quando há quantidade de informação suficiente, quando há esclarecimento disponível e acessível.

 

Enquanto preparávamos a edição desta quinzena entrevistei alguns jovens e outros mais maduros a respeito do assunto. Uma vergonha! Um completo desconhecimento! Uma completa ausência de argumentos! Ouvi coisas como “Fumar é pecado”, “Não sei porque, mas sou contra”, “Maconha faz mal para a saúde” (e quando perguntei: que males?, a resposta foi: não sei!) E não estou dizendo, de forma alguma, que não faz mal. Apenas queria saber se a pessoa sabe porque faz mal.

 

Ouvi também coisas alarmantes como “Não saberia dizer, nunca li nada a respeito”, “Não tenho argumentos, preciso pesquisar”. Por último, ouvi coisas mais simplistas como “Maconha relaxa”, “Os maconheiros vivem na paz, a maconha vai acabar com a guerra”, “O comércio da maconha pode diminuir a inflação brasileira, estaremos dando um ‘up’ na economia”. Sim, eu também precisei rir a vontade.

 

É possível notar a falta de argumentos? Muitos destes pontos abordados têm lá as suas verdades, mas no contexto em que foram ditos, não são verdades plausíveis, são bravatas de desinformados. É preciso construir argumentos, é preciso doutrinar as vozes. É preciso esclarecimento para discernir entre os lados da questão.

 

Como já dizia Joseph Joubert, “o objetivo de possuir argumentos não deve ser a vitória, mas o progresso”. Que esta edição do Canal da Imprensa contribua na construção dos seus argumentos!

 

 

Andréia Moura

Editora-chefe do Canal da Imprensa

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