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"Ela (a mídia) simpatiza, sim, com a maconha

 

Giselly Abdala

 

Deputado, ex militar, direitista, conservador, polêmico. Jair Bolsonaro, autodenominado defensor da família, é taxativo em sua posição contrária ao projeto de descriminalização da maconha. Segundo o ex militar, a erva não acrescenta ao desenvolvimento da sociedade, além de ser nociva à saúde e ao bem comum, pois “o indivíduo sob uso da droga pode se tornar violento e/ou roubar itens de casa para manter o vício”. Sobre a solução, a resposta é ágil: tem que mandar pra dentro do xadrez.

 

Canal da Imprensa: Deputado, o senhor já se mostrou diversas vezes contrário ao projeto de lei que visa legalizar o uso da maconha. Por quê?

 

Jair Bolsonaro: Olha, se você fizer uma pesquisa junto a pais e mães e lhes perguntasse se gostariam que seus filhos fumassem maconha, acredito que mais de 90% seria contra. Essa é a minha primeira fonte inspiradora. Não sou psicólogo nem médico, mas não vejo nenhum médico na frente da marcha da maconha falando pelos médicos que a maconha seria benéfica para a saúde das pessoas. Aí você olha para os países que legalizaram, mas não se pode comparar o Brasil a países de primeiro mundo. Lá a educação é diferente, o povo é diferente. Lá tem lei. Se alguém faz uso de uma droga e comete um crime qualquer, vai ser punido. No Brasil não é bem assim.

 

C.I: Mas considerando que uma boa porcentagem da população continua usando a droga, mesmo que ela ainda não seja legalizada, você não acredita que uma regulamentação seria benéfica, até mesmo para ter um certo controle?

 

Bolsonaro: Tem certas coisas que muita gente acha que se colocar no papel soluciona o caso, não é assim.  Ao legalizar ela vai estar mais facilmente no mercado, além de um mercado paralelo, o ilegal continua valendo. Caso contrário não teria contrabando de cigarro do Paraguai para cá. Uma grande preocupação minha é junto à juventude. A maconha vai entrar no meio dessa garotada aí - se já não existe - como uma novidade. Estudos revelam que no tocante à memória a criançada perde isso aí. Aumenta a evasão  escolar e aumenta o número de pessoas depressivas. Este é o problema! Não é porque uma corrente é favorável a uma coisa que nós devemos atender aquilo.

 

C.I: Quanto ao uso da droga, sendo regulamentada ou não, não acha que deveríamos começar a conviver com elas e elaborar uma educação em torno disso para assim diminuir os impactos sociais e até econômicos?

 

Bolsonaro: Você vai arrecadar mais impostos em cima disso, mas vai ser no padrão da linha do cigarro. Crescem o olho. É uma questão de estímulo, se eu te der um beliscão aqui agora você tem uma fração de segundos pra ter uma reação. Dizem os estudiosos que a pessoa que fuma regularmente maconha, o tempo de reação é maior, e uma fração de segundos pode ser o tempo que causa um acidente. Se liberar o uso das drogas, o policial vai poder fumar, claro, ele também é filho de Deus; e aí em campo, com os estímulos retardados, essa fração de segundos pode definir a vida dele, um inocente, ou a de um marginal. E, por coincidência, saiu o resultado do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), nos últimos lugares está o Uruguai e Colômbia. No Uruguai a maconha foi regulamentada, na Colômbia, eu sei que a droga é mais pesada, mas a maconha também existe e o país também ficou nos últimos lugares. E você pode puxar isso no tocante a droga, porque ela chegou junto a garotada. Então eu não sei onde é que se pode agregar algum benefício. Quando se fala da violência do tráfico, se a maconha for liberada, as outras drogas vão continuar sendo comercializadas. Aí vamos fazer o que? Liberar a cocaína também? Eu te pergunto, você vai pegar um avião e antes de entrar percebe que o comandante ta fumando um baseado. Você viajaria tranquilo? Porque é normal que a pessoa que usa essa droga queira relaxar e tenha certas visões. Imagine um comandante com estas certas visões durante um voo.

 

C.I: Assim como aconteceu com o tabaco e o álcool,  será que com o tempo as pessoas passarão se acostumarão e passarão a entender que usuários recreativos da maconha também podem exercer suas funções?

 

Bolsonaro: Eu acho que o tabaco não causa tanto mal. O mal do tabaco é o câncer que ele causa, e o grande prejudicado pelo fumo é apenas o usuário. A maconha não. O usuário da maconha acaba furtando coisas de casa, desviando recursos pra manutenção do seu vício. Hoje em dia o THC é modificado, sendo mais agressivo no tocante a viciar o usuário. Há um interesse por parte do tráfico que o usuário não largue o vício. Colocar na lei não vai adiantar nada, não é só porque ta em um pedaço de papel que as pessoas vão cumprir. Eu vi esses dias na televisão falando sobre a favela de paraisopolis, dizendo que uma grande parte da molecada de 14 anos ganha a sua vida soltando pipa pra alertar o traficante. Servem como entregadores, como fogueteiros. Então nós temos uma média de 30 mil moleques com menos de 14 anos nessa favela já servindo ao tráfico, se legalizar ‘cê’ vai colocar essa molecada na rua, servindo até pra entregar droga e isso não ser mais crime. Não to falando que tem que prender o maconheiro. Quem fuma dentro de casa, que leve a sua vida, mas não queira legalizar isso aí porque todos nós vamos sair perdendo.

 

C.I: Você mencionou os garotos de 14 anos que estão envolvidos no tráfico, e a proibição da droga tem justamente ocasionado um aumento de crianças e adolescentes envolvidos com o mesmo. Além disso,abordando de uma maneira mais social, essa proibição influi no aumento da violência, corrupção e população carcerária. O senhor não acredita que devemos olhar a analisar também estas questões?

 

Bolsonaro: Não, não, não, essas questões têm que ser levadas é pra dentro do xadrez. No que ajuda o uso da maconha para as pessoas respeitarem o próximo, pensarem hierarquicamente ou terem disciplina? A pessoa fica numa “nice”, fica voando. O cara que fuma maconha quer relaxar, quer se desligar do mundo. Veja bem, em uma universidade, no que a legalização vai ajudar para formar o melhor engenheiro ou o melhor médico? Não vai ajudar em nada. As leis existem para defender as maiorias, a minoria tem que se curvar a maioria. A maioria é que deve ser respeitada.

 

C.I: Mas esta minoria que faz o uso recreativo da maconha acaba refletindo também em questões que atingem a maioria, a população como um todo...

 

Bolsonaro: Então tem que criminalizar isso aí! Se você atropela e mata uma pessoa, você tem sua punição. Agora se você tiver com álcool no sangue o crime passa a ser doloso. Então qualquer ação que afete terceiros devido o uso de drogas, a pessoa tem que responder por crime doloso. Nós temos que colocar freios. Eu entendo que o ser humano só respeita o que ele teme. A nossa legislação não pune por nada, e aí fica tudo muito a vontade. Olha só esses jovens de 16, 17 anos, eles sabem que não tem punição pra eles. E agora com uma fumacinha na cabeça, relaxante, vai ficar muito mais propenso a cometer crimes.

 

C.I: Então a solução seria colocar um cabresto na sociedade?

 

Bolsonaro: Não existe solução pra nada, nós somos seres humanos. Temos que diminuir a incidência de pessoas com comportamento agressivo junto a sociedade. Quem prega a solução é o pessoal de esquerda, que acredita que a solução é dividir renda e que prega que somos iguais, nós não somos iguais em muitas coisas.

 

C.I: Na sua opinião, qual a postura da mídia frente a este debate?

 

Bolsonaro: Eu vejo que a mídia não tem dado muita ênfase, mas ainda assim têm mencionado bastante. E isso acontece porque tem muita gente lá dentro que gosta do consumo. Quando tem marcha da maconha e essas coisas, a mídia ta sempre presente cobrindo. Então eu acredito que ela se simpatize sim.

 

    
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