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Tempos de maconha, tempos de debate

 

Fossem ainda os tempos em que a mídia se fingia de conservadora... Hoje, perante todas as controvérsias da sociedade é preciso coragem para debater as novas tendências.

 

Katherine Changanaquí

 

Tendências sim. Vive-se um contexto que luta pela liberdade de opção sexual, do uso de entorpecentes, das estruturas familiares, das diversas ideologias. Foram sim, os tempos em que tabu era solução para tudo. Hoje é preciso ir além: debater, procurar soluções e colocá-las em prática.

 

Há poucos dias a luta foi novamente anunciada nas ruas. Um grupo formado por consumidores e por pessoas que acreditam que a descriminalização da maconha é necessária, expressaram o seu pedido a sociedade.

 

Vivemos hoje uma época de confusão perante as mudanças, pois há verdades que não podem ser mais ocultas. O tabu e os preconceitos converteram-se em clichês frente às realidades que nem todos aceitamos mas que precisam ser dialogadas. É aqui, onde as palavras do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso entram em jogo: é impossível falar de uma sociedade com droga zero, mas é necessário regular, educar e combater.

 

Mas para que este processo seja possível é grande a tarefa que resta aos meios de comunicação. Informar e educar a população com fim de chegarmos a um consenso. No entanto, essa realidade, expressa também pelo jornalista Alberto Dines, ainda é incipiente e precisa deixar de lado o preconceito e os interesses.

 

Fala-se de drogas, de descriminalização da maconha tudo sob um contexto de proibição, mas se deixa de lado a realidade dos mercados de narcotráfico, de possíveis programas de Saúde, e de interesses econômicos envolvidos. A população precisa conhecer a fundo esta realidade para pensar em alternativas e solução coerentes. Proibir com a esperança de erradicar não representa mais uma saída.

 

A maior parte da Mídia tenta relevar estes conceitos e continuar propagando os tabus. Ora por conservadorismo, ora por conformismo e comodidade. O trabalho da mídia frente à “Legalização da Maconha” tem se estagnado, deixando a população sem a informação que merece.

 

A Veja e a eterna ilegalidade da Maconha

 

E quando se fala de Maconha, a revista Veja não é alheia ao debate. Só no ano 2012 e 2013 duas reportagens especiais foram dedicadas a abordagem do tema.

 

Pegando como exemplo a legalização da cannabis em países como Estados Unidos e Uruguai, a Veja expressou a sua opinião crítica através de matérias. Mas a abordagem não foi muito diferente de alguns grupos sociais onde abunda o “preconceito”.

 

A abordagem do ano 2012, referia-se a maconha como a mais nociva das drogas, pois os seus efeitos eram perceptíveis no corpo ainda quando o consumo parasse. Nesta reportagem intitulada “MACONHA: As novas descobertas da medicina cortam o barato de quem acha que ela não faz mal”, era explicado, por meio de profissionais e ex-consumidores, a outra cara da maconha que muitos “ ignoram”.

 

Danos cerebrais, psicoses e esquizofrenia, dependência e ansiedade eram alguns dos efeitos mencionados na reportagem. O texto repetia, constantemente, que pessoas que iniciam o consumo na adolescência afetariam o seu cérebro de forma irrecuperável.

 

Menciona-se também que vãos são os esforços do governo por legalizá-la com o intuito de erradicar o narcotráfico. Este sempre irá existir, com ou sem venda de maconha, pois a cannabis não é a única droga do planeta. E porque sempre haverá um público consumidor restringido pelas novas leis, que precisará do narcotráfico. É o caso dos menores de idade.

 

Testemunhos, imagens, e até entrevistas junto a alguns infográficos convenceram-me que a maconha é nociva demais para os nossos organismos e que precisamos condena-la por afetar as novas gerações.

 

Sua abordagem representava a preocupação social dos grupos conservadores que veem na descriminalização da erva, uma ameaça para os seus filhos e para a harmonia nos seus lares.

 

No entanto, na reportagem nenhuma posição contrária e relacionada com os grupos liberais foi manifestada e nenhum profissional ou especialista a favor da legalização foi consultado. Deixou-se de lado a possibilidade de um debate. Prática ignorada, uma vez mais, pela mídia porém, necessário.

 

Um ano mais tarde, quando era impossível ocultar o avanço das propostas de legalização, uma nova reportagem foi escrita com o intuito de dar a conhecer a realidade dos países onde a maconha foi aceita para uso medicinal e/ou recreativo. Era o caso do Uruguai e dos Estados Unidos.

A reportagem deixa de representar alguns padrões da Revista e tenta ser imparcial no momento de dar a conhecer a realidade destes lugares. Vendedores, consumidores, autoridades e médicos foram consultados, cada um dando opiniões a respeito do que viveram após a “aceitação social” da droga.

E com esta abordagem é possível identificar falências e erros cometidos pelos governos. Fala-se da dificuldade de criar projetos de saúde para combater o consumo. Das dificuldades econômicas em transações não aceitas pelo banco por tratar-se de dinheiro da venda de maconha. E é possível identificar que, apesar das tentativas, há necessidade de muito esforço para o projeto da liberação não fracassar. Apresenta-se também o fato de que não houve erradicação total do narcotráfico.

 

Quando uma pessoa lê a reportagem percebe que o governo é fraco para conseguir os seus objetivos planejados ao legalizar a maconha, e que ao invés de reduzir o consumo ou narcotráfico a sociedade é motivada a fumar maconha por lazer. Tudo isto configura uma “nova etapa” de mais uma droga aceita que, segundo a Veja, podia prejudicar pessoas jovens.

 

Acredito em uma liberdade de expressão na qual é possível defender os nossos pensamentos e interesses. Uma liberdade que fica em segundo plano quando fazemos parte dos meios de informação. Pois nossa responsabilidade maior é expressar-se em beneficio da sociedade.

 

É o caso da Maconha e o tratamento pela mídia. Continuamente censurada e hoje frente ao avanço da sua luta, ignorada. A mídia precisa gerar debate, independentemente das convicções do jornalista, ou do editor. Precisa contar mais histórias que permitam reconhecer o que há por trás desta luta.

 

E momento das nossas crenças individuais serem deixadas de lado para dar chance de que uma temática social, que não pode mais ser silenciada, sena tratada com eficiência. Temos uma sociedade que convive com o álcool, o tabaco e, no futuro, com a maconha livre. Portanto, precisamos reagir.

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