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Metodologia "BBCiana" da neutralidade

 

Daniela Fernandes

 

Um jornalismo de qualidade requer alguns critérios de execução. O uso das técnicas de redação pode proporcionar ao leitor, ouvinte e/ou telespectador a máxima fidelidade à informação. Analisar o posicionamento de um determinado veículo de comunicação possibilita o ensinamento sobre o que deve ser feito e o que não deve. Neste caso, será explorada a cobertura jornalística da BBC sobre o conflito entre israelenses e palestinos.

 

A princípio, algumas matérias e reportagens de diferentes meses e anos foram estudadas a fim de se observar se havia uma metodologia padrão construída para relatar os confrontos. E, de fato, havia. A seguir, escolhi aleatoriamente uma das matérias para detalhar o método utilizado pela BBC.

 

A estruturação textual da BBC

 

Na maior parte dos textos o que se nota primeiramente é a apresentação do fato por meio do título. Este privilegia um lado da história, seja ele israelense ou palestino. Em seguida, é colocada uma foto e uma legenda que juntas expõem o outro lado da narrativa. Parece contraditório, mas posteriormente a aparente antítese é explicada.

 

Na linha fina da matéria, ou seja, no pequeno texto colocado logo abaixo do título para destacar informações da matéria, encontramos o motivo pelo qual a ação de um lado levou a ação do outro. A controvérsia pretende evidenciar o princípio da ação e reação nos confrontos, assim a suposta antítese é justificada.

 

O texto, então, continua. O jornalista retrata e detalha o número de vítimas (quando há), apresenta os motivos que levaram cada lado a agir e menciona um mediador quando existe processo de negociação.

 

Por fim, e quando há indícios, apresenta-se um suposto crime de guerra e um pedido de investigação é colocado em pauta.

 

Metodologia e pragmatismo

 

A matéria publicada no início do mês de agosto, que foi escolhida para análise, tem por título: “Israel retoma ofensiva após fim de cessar-fogo”. Note que o título remete a uma ação dura de Israel. A foto, na sequência, é da interceptação de um míssil, e a legenda é: “Domo de Ferro, o escudo antimíssil de Israel, intercepta foguetes lançados pelo Hamas”. Aqui, pode-se entender que o Hamas contribuiu também com o impedimento de um cessar-fogo prolongado. Assim, as duas motivações do conflito são colocadas lado a lado. Dando ao leitor um panorama geral do episódio.

 

“Israel retomou nesta sexta-feira a ofensiva militar a Gaza depois que militantes do grupo palestino Hamas voltaram a lançar foguetes contra o território israelense após o fim de um cessar-fogo de 72 horas”: esta é a linha fina da matéria, a qual nos faz entender os pretextos advindos de ambos os lados. O detalhamento de vítimas, motivos e negociações é feito logo depois. O texto relata que “pelo menos 1.922 palestinos, a maioria civis, foram mortos e que 64 soldados israelenses morreram, além de dois civis e um cidadão tailandês”. Em relação aos motivos, diz que Israel alegou que “o grupo palestino Hamas rejeitou o pedido de desmilitarização de Gaza”, enquanto o Hamas disse que “Israel se recusa a atender às suas principais reivindicações que inclui a suspensão do bloqueio a Gaza e a libertação de 100 prisioneiros”. Quanto a mediação, lemos que o chanceler egípcio pediu “uma retomada imediata das negociações de uma trégua de longo prazo”. Desse modo, a leitura dá voz aos dois povos e, também, a uma visão próxima, mas externa do problema.

 

A matéria conclui com um pedido de investigação vindo da Anistia Internacional sobre o que chamou de "evidências crescentes" de que Israel atacou deliberadamente hospitais e profissionais da área de saúde em Gaza.

 

Ao final, percebo que há realmente uma lógica estrutural com isenção de favorecimento partidário. Entretanto, essa postura da BBC abre precedentes para ataques críticos vindos tanto de israelenses quanto de palestinos. A mídia não pode escrever apenas para um grupo seleto. Pelo contrário, ela deve expor os argumentos de cada lado e conceder ao público o direito de julgar e interpretar os fatos. Após essa leitura, convido você a ler e analisar outros textos da BBC para se certificar da predominância do critério. E, logo em seguida, cobrar de todos os veículos midiáticos essa neutralidade.

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