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Os desinformantes

 

Há tempos atrás assisti um filme interessante, muito engraçado e baseado em fatos reais. Uma comédia/drama, mas não do tipo comum. A película parodiava a vida de um famoso executivo que decide tornar-se informante do FBI. No fim das contas, ele só consegue causar confusões gigantescas, enrolar a polícia, mentir, fraudar e acabar preso. Nada de ajudar a pegar os bandidos! O nome do filme, ainda mais sugestivo: O Desinformante!

 

Enquanto preparávamos esta edição do Canal da Imprensa, tive oportunidade de ler, estudar muito sobre a temática e entrevistar diversas pessoas envolvidas com o assunto. Jornalistas, historiadores, especialistas nas culturas de ambos os povos. E enquanto meditava sobre a questão palestina-israel, memórias deste filme (arquivadas em um passado remoto e em nada importante) insistiam em se intrometer em meus pensamentos.

 

Nada me tira da cabeça que temos exercido, como mídia, uma tremenda confusão, no que concerne ao conflito entre palestinos e judeus. É certo que toda cobertura de conflitos é permeada por um pouco de desinformação. Mas neste caso, o que sinto, é que nossa função de prestadores de serviço, de formação, de espaço fomentador de debates, está falhando. Me impregna certa impressão de que não estamos falando ao povo sobre o que realmente importa, em relação ao tema. Estamos  desinformando. Nos focando em coisas tangenciais, nos prendendo a um bairrismo nascido de afinidades, sendo plataformas onde os envolvidos sobem para gritar cada vez mais alto suas verdades a fim de encobrir a voz de seus rivais.

 

Nosso trabalho não deve ser potencializar gritos e bravatas, nosso trabalho consiste em pavimentar o caminho do esclarecimento. Um esclarecimento que gere mobilização e sensatez. Nós não confundimos, nos infundimos conhecimentos, certezas.

 

A edição 145 do Canal da Imprensa vai falar deste assunto denso e mal compreendido: o conflito árabe-israelense. Mas, sem pretensão nenhuma de ser palavra final, de ser a voz da crítica ou da verdade. Nossa intenção, com o material produzido, é apagar um pouco, talvez muito pouco, da grande “desinformação” a respeito que circula por aí.

 

Que nosso trabalho seja relevante para você leitor. Que ele agregue conhecimento, produza reflexão. Que ao terminar a leitura de nosso material você tenha a sensação certa. Um sentimento que rechace firmemente uma apatia, uma indiferença, nascida da desinformação. Rechacemos o canceroso som do silêncio, que Paul Simon soube colocar tão propriamente nas palavras de sua canção:  

 

E na luz nua eu vi (And in the naked light I saw)

Dez mil pessoas, talvez mais (Ten thousand people, maybe more)

Pessoas conversando sem falar (People talking without speaking)

Pessoas ouvindo sem escutar (People hearing without listening)
Pessoas escrevendo canções (People writing songs)

Que vozes jamais compartilharam (That voices never share)

E ninguém ousava (And no one dare)

Perturbar o som do silêncio (Disturb the sound of silence)

 

 

Andréia Moura

Editora-chefe do Canal da Imprensa

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