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A busca por um Estado de paz

 

Dois lados distintos - Israel e Palestina - convergem suas ideias quando o assunto é a paz. Mas as divergências ideológicas, o extremismo e a falta de medidas eficazes internacionais sobrepõem os discursos pacíficos

 

Daniela Fernandes

 

A história dos israelenses e palestinos existe há anos. Por esse motivo, o conflito entre ambos é um assunto tão frequente nos jornais, revistas, rádios e televisões em geral. A princípio, as discordâncias entre eles apareceram com a criação do projeto Sionista na segunda metade do século XIX, o qual defendia a criação de um Estado nacional judaico. A constante migração de judeus - advindos da Europa - para a Palestina também auxiliou na parte dos conflitos. A partir de então, outros desdobramentos foram acontecendo. Um deles foi a Declaração de Balfour (1917) - estabelecida pelos britânicos - que dera à nação judaica os direitos políticos sobre parte das terras habitadas por palestinos, fato que contribuiu ainda mais com a migração rumo ao denominado “lar nacional israelense”.

 

Após o fim das ações inglesas na região, houve intervenção da Organização das Nações Unidas (ONU) que aprovou o plano de Partilha da Palestina. A seguir, a criação do Estado Judeu foi oficialmente reconhecida pela ONU em 1948. Representantes dos Estados Árabes, como Egito, Iraque, Jordânia, Líbano e Síria reagiram imediatamente. Deu-se início, dessa forma, ao primeiro conflito árabe-israelense. “As guerras que se seguiram após o reconhecimento do Estado israelense queriam ‘jogar os judeus no mar’, como eles diziam. Desde então, felizmente conseguimos fazer acordos de paz com países árabes, entretanto a briga entre palestinos e judeus continuou”, disse Lior Ben Dor, ministro da Embaixada de Israel no Brasil.

 

Muitas vidas foram transformadas com a primeira guerra árabe-israelense (1949). Os palestinos que possuíam casa em áreas agora de controle israelense fugiram ou foram expulsos. Consequentemente, os países vizinhos (Síria, Líbano, Cisjordânia e Jordânia) abrigaram os refugiados. Segundo a ONU, nessa época cerca de 711 mil pessoas se dispersaram. Os judeus que foram igualmente expulsos das áreas árabes, quando não se deslocavam para assentamentos, se dirigiam a países como a França e Estados Unidos.

 

“Israel usa todo o seu maquinário, força bruta e bombardeio indiscriminado. Mas o povo palestino quer viver em paz com os seus direitos. Não queremos recorrer à luta armada. Seguiremos em busca de nossos direitos e da paz entre ambos”, declarou Ibrahim Al Zeben, embaixador da Autoridade Palestina no Brasil.

 

A fim de tentar anular essa superioridade militar israelense, foi criada a Organização para Libertação da Palestina (OLP) em 1964. O estatuto original da organização política e paramilitar deixava claro que sua meta era defender a pátria palestina através da luta armada, o que tornou a questão ainda mais complexa. Porém, em 1988, a OLP decidiu tornar oficial o seu apoio a uma convivência mútua. Cinco anos mais tarde, o então presidente da organização Yasser Arafat reconheceu o Estado de Israel e, em resposta, Israel reconheceu a OLP como legítima representante do povo palestino.

 

Entre lutas e armistícios, a zona geográfica local sofria frequentes alterações, principalmente após a Guerra dos Seis Dias (1967). Ao final desses processos de organização territorial -  sempre marcado por conflitos-, os territórios israelenses compreendem, hoje, parte da Cisjordânia, Jerusalém Oriental, Colinas de Golã e as Fazendas de Shebaa. E os atuais territórios palestinos englobam a outra parte da Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

 

Grupos, conflitos e armistícios

 

O Fatah, grupo político e militar criado em 1959, é o principal participante da OLP que quer obter um Estado nacionalista laico. A associação, no entanto, não foi capaz de instituir um cessar-fogo definitivo. Por isso, mais tarde, houve novos confrontos, entre eles a Guerra Yom Kippur (1973).

Apesar da assinatura do Acordo de paz com mediação norte-americana, egípcia e israelense em 1979, aconteceu de 1987 a 1992, a Primeira Intifada - revolta palestina liderada por jovens. E, no mesmo ano de 1987, foi fundado o grupo fundamentalista islâmico, Hamas, que é classificado por Israel como organização terrorista. “Sempre preferimos o diálogo. Sempre preferimos assinar os acordos de paz. Mas, em qualquer parte do mundo, para assinar um acordo de paz se precisa de dois lados. Israel quer assinar a paz. Porém, se perguntarmos a qualquer representante do Hamas se ele quer reconhecer o Estado de Israel, ele vai dizer que nunca, pois a sua ideologia não lhe permite isso”, declarou o ministro Ben Dor. Atualmente, o Hamas é o partido político que controla Gaza.

 

O embaixador Al-Zeben, ao ser questionado sobre a possibilidade de uma solução militar para a questão palestina, afirmou que é “impossível, porque Israel faz de tudo para acabar com o povo palestino. O direito internacional deve ser respeitado para a criação de um estado palestino”. E explica: “acredito em uma solução política. Palestinos e judeus necessitam de paz e a comunidade internacional pode interferir e ajudar a alcançar essa situação”.

 

Em 1993, os Acordos de Oslo foram firmados pelo presidente da OLP Yasser Arafat e o governo israelense. Os acordos visavam paz plena entre os dois povos. Todavia, em 2000, alguns atentados suicidas caracterizaram a Segunda Intifada.

 

Já em 2005, Israel tomou medidas para que se fossem retirados alguns assentamentos da Cisjordânia.

 

Nahum Sirotsky, jornalista brasileiro em atividade há mais de setenta anos e que vive em Tel Aviv, disse que “o conflito é tão profundo que não se pode prever quem vencerá. Botar um 'dedinho' no tema do conflito é muito difícil. As raízes são profundas”. Sirotsky comentou que “Israel é um país forte, mas este ficou ‘ilhado’ entre os países árabes. E por isso o conflito bélico, segundo Israel, é a única proteção deles. Algo como uma tática de sobrevivência”.

 

Enfim, a onda de ataques provenientes ora de um povo ora de outro virou rotina, assim como as tentativas de acordos de paz definitivos. As intervenções internacionais não foram capazes de colocar fim aos conflitos. Desta maneira, as batalhas prosseguem intermitentemente.

 

A mídia e o conflito

 

A objetividade e a neutralidade da cobertura midiática dos confrontos árabe-israelense é de extrema importância para que o público entenda o conflito. Os meios de comunicação têm o dever de realizar um jornalismo de qualidade que vise informar e educar. Sendo assim, desde o início da história dos dois povos, principalmente nos últimos 30 anos, a mídia tem pautado a questão da imparcialidade. Contudo, nem sempre se observa esse pragmatismo.

 

“Às vezes, a mídia não cobre o que acontece de maneira equilibrada. Por exemplo, deve-se explicar que o número de vítimas do estado israelense é muito menor, porque temos um sistema ‘Domo de Ferro’ que intercepta e destrói mísseis de curto alcance. Além de termos refúgios, sistema de sirene, bases e cômodos residenciais protegidos contra bombardeios. As explicações são muito simples, mas precisam ser dadas”, argumenta Ben Dor.

 

Em matérias da revista Carta Capital, é possível encontrar expressões como “uso desproporcional da força” e “massacre”, que dão enfoque ao apoio palestino. O jornal O Globo, por sua vez, privilegia em dados momentos a comunidade israelense quando se refere ao Hamas como grupo terrorista ou, também, quando diz que Israel tem o direito de atacar os palestinos. Esses são vocábulos que devem ser evitados se a intenção for verdadeiramente cobrir o conflito de maneira isenta.

 

Al-Zeben afirma que “infortunadamente a cobertura não está à altura do genocídio. É uma mídia de interesses”. Para o embaixador, há agressão por parte de meios de comunicação que distorcem a realidade. “Essa depravação midiática acaba deixando de lado a verdadeira vontade do povo palestino que é o estabelecimento da paz”, acrescentou.

 

“O papel da mídia seria desvendar os mecanismo de produção do conflito. Mostrar as raízes do conflito. Jamais se limitar a relatá-lo como questão de ódio mútuo inerente aos dois povos”, afirma Paulo Gabriel Hilu da Coordenação Núcleo Estudos sobre Oriente Médio/UFF em entrevista ao programa Observatório da Imprensa no dia 31/07/14. Como forma de apoio, o International Press Institute (IPI), organização que promove a liberdade e segurança na mídia internacional, publicou em 2013 um guia para jornalistas que acompanham os confrontos árabe-israelenses. O guia, Use with care (Use com cuidado), apresenta termos neutros e dicas de como se deve evitar o partidarismo. A proposta prevê transparência na cobertura e pretende resgatar a confiança do público.

 

Dois lados distintos - Israel e Palestina - convergem suas ideias quando o assunto é a paz. Mas, as divergências ideológicas, o extremismo e a falta de medidas eficazes internacionais sobrepõem os discursos pacíficos. É inviável pensarmos em um cessar-fogo definitivo em poucos anos. Porém, é plenamente compreensível pensarmos em pequenas medidas que apontarão para a paz definitiva. Um novo cenário só será viabilizado quando houver reconhecimento de ambos como “Estado”, disposição moral e consciência de que cada lado deve ceder certos aspectos. Ou seja, as ações deverão deixar a unilateralidade. Logo, o processo não é simples e, muito menos, rápido. O tema é denso e o progresso só será alcançado com o estabelecimento de garantias e a instalação da confiabilidade mútua.

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