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Vida palestina só para baixinhos

 

Com suas cinco câmeras quebradas, o jovem Emad expõe, de maneira lúdica, a visão dos palestinos sobre Israel e prova que nem tudo é vitimismo

 

Emanoel Junior

 

Com uma qualidade rústica, “5 Câmeras Quebradas” parece ter estratégias hollywoodianas de dramaturgia. Com uma sonoplastia resumida a sons de guerra, o documentário surpreende quando o espectador percebe que o drama é real. A história é uma dose de realidade pura e amolece até coração de pedra. ”Mas não se deixe enganar, isso é tudo vitimismo”, diria aquele seu amigo descendente de judeu. E não se deixe enganar mesmo. Acreditar cegamente que todos palestinos se fazem de vítima e que não sofrem de verdade é um triste engano.

 

 O ódio pelo outro é cultivado dia a dia e se torna quase genético. “As mortes do conflito fazem, cada vez mais, ódio e raiva brotarem dos corações palestinos, que passam a se dispor a morrer também”, desabafa Emad, depois de algumas mortes em sua comunidade na Cisjordânia. O conflito tem raízes históricas e religiosas e é passado naturalmente de geração para geração. O que para nós é inconcebível, para eles é lógico. Qual o sentido de matar alguém em nome de Deus? Pergunte a um palestino ou a um israelense. O documentário nos permite acompanhar o crescimento de Gibreel, filho de Emad, do nascimento à infância, da inocência à vontade de matar um judeu.

 

 Uma criança palestina nasce como qualquer outra criança no mundo. No entanto, crescem vendo amigos, vizinhos e parentes morrendo pelas mãos de soldados israelenses. Segundo Emad, “seguir ideais não-violentos não é fácil quando a morte está por todos os lados”. E as injustiças não se resumem a morte. Imagine alguém chegar na sua casa e te dizer que você não mora mais ali e que, se você não sair, será preso? Revoltante, não? Pois bem, para alguns palestinos como Emad, isso é realidade. Com os assentamentos israelenses avançando, cada vez mais palestinos se envolvem na disputa e alguns perdem a cabeça, pagando violência com mais violência. O Hamas, movimento de resistência islâmica, é conhecido mundialmente como grupo terrorista e abriga os palestinos mais revoltados. Segundo eles, a única maneira de impedir as invasões israelenses é com guerra. E, sem nenhuma outra instrução, palestinos como o pequeno Gibreel reproduzem essa filosofia.

 

Entretanto, em certos momentos, Emad demostra essa consciência e percebe que, na maioria das vezes, seus parceiros apenas reproduzem o conflito, não refletindo sobre os motivos reais. Ele consegue claramente entender a guerra e transmite esse entendimento para o espectador. Isso é um ponto muito importante para o crescimento do debate, pois com a sociedade civil consciente, ficamos em uma posição favorável à medidas mais eficazes. É possível terminar o documentário sem dar a razão para os palestinos, mas os entendendo muito mais.

  
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