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Mídia: Uma América Latina vendida

 

Daniela Fernandes

 

Faça um exercício. Pergunte a um grupo de amigos o que eles sabem sobre a América Latina. Por exemplo, quantos países fazem parte deste grupo. Se alguém conseguir responder, vá adiante. Pergunte quais são as capitais, as moedas e os principais pontos turísticos latinoamericanos. Garanto que grande parte da amostra de sua pesquisa não conseguirá responder às suas indagações. Sabe porquê? Nós, brasileiros, somos criados culturalmente alheios ao que nos circunda. A cultura estrangeira exaltada nas salas de aula desde o ensino básico faz menção quase que única e exclusivamente aos países europeus e, principalmente, ao Estados Unidos.

 

Há uma simpatia e reverenciamento por esses países. “Os estadunidenses são ótimos em tudo o que fazem”… “Os parisienses exalam glamour”… “Os italianos possuem artistas renomados”… Uma bajulação incompreensível, já que o sentimento pelo Brasil não é recíproco. Veja, toda essa admiração poderia se transformar em projetos positivos de integração, porém as relações internacionais passam longe disso. O diálogo é limitado e unilateral. Não há espaço para a ingenuidade. Essa incoerência nacional é justificada pelos interesses financeiros de uma minoria elitizada e, também, pela desinformação da sociedade. Por fim, a relação Brasil e eixo EUA-Europa não é exitosa.

 

A deseducação popular ante a questão da América Latina advém das escolas e, também, é proveniente da maneira como a mídia trata o assunto. A influência dos meios de comunicação sobre a opinião pública é determinante. A mídia brasileira - como tantas outras - defende interesses privados e, por isso, adota discursos favoráveis a seus donos. Geralmente, a cultura latina é desconstruída. Não se fala no tema ou este é substituído por notícias internacionais de caráter irrisório até mesmo nos países onde o fato aconteceu.

 

A soberania dos países da América Latina é atingida toda vez que se deixa de reportar informações sobre eles. Nossos vizinhos de fronteira merecem a devida atenção, afinal a globalização favorece uma aproximação e conhecimento acerca das características e diversidade cultural/étnica de cada povo latinoamericano. Deixar de veicular na mídia essa riqueza é negligenciar os possíveis e rentáveis laços políticos e econômicos que fugirão dos padrões. Uma das maneiras encontradas para se fazer isso foi a criação do Mercosul, área de livre comércio comum de cinco países da América do Sul. Assim, uma segunda via e um contraponto internacional é posto em prática.

 

Repare no poder do mercado midiático. O Estados Unidos se auto proclama defensor das liberdades e diz que tem excelente qualidade de vida, todavia a realidade é outra. O EUA possui falhas como quaisquer outros países, a diferença é que os fatos verídicos são camuflados. A mídia tradicional brasileira compra essa ideia e divulga apenas narrativas que privilegiam e exaltam o Tio Sam. Sendo assim, no Brasil, as pessoas creem ser os EUA e os países europeus modelos de nações a serem copiadas. 

 

O esnobismo e o entreguismo das elites brasileiras canalizados pelos meios de comunicação acorrem à defesa dos interesses privados, os quais apontam para um passado onde a Metrópole desrespeitava e era intolerante com suas colônias. A cultura latina propõe outro olhar na interpretação mundial. A visão daqueles que já foram explorados e amordaçados por seus colonos. Permitir que essa cultura não seja integrada e disseminada é retroceder séculos.

 

O mercado da mídia brasileira é composto por pessoas travestidas de jornalistas que visam desestabilizar governos e ostentar o poder que sempre detiveram. Fazem isso porque se sentem ameaçados. A indústria jornalística deve seguir outra linha. Uma linha que reveja seus conceitos de seleção de notícias e englobe a América Latina como um todo e não apenas como a América Latina da elite branca litorânea e dos centros econômicos.

 

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