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Simplesmente cultura

 

Carregando o karma do próprio nome, a TV Cultura faz sua parte e produz conteúdos de qualidade. Porém, deixa a desejar quando tem que cair no gosto do público fiel às mídias tradicionais.

 

Emanoel Junior

 

Quando o assunto é América Latina,encontramos duas categorias de qualidade inversa nos meios de comunicação brasileiros. De um lado da balança, aquela velha cobertura de sempre dos mesmos veículos de sempre. Do outro, uma tentativa eficiente de se relacionar com nossos vizinhos andinos, porém, frágil. A TV Cultura, veículo considerado underground demais para alcançar mais de 1% da audiência média, cumpre seu papel jornalístico e traz em sua programação informações úteis para o telespectador se situar no continente. Como é costume estereotipar países como Venezuela, Bolívia, Paraguai, México, a Cultura se destaca por fazer o essencial.

 

 Acostumados com o eixo São Paulo/Miami, o telespectador comum não se interessa pela cultura (riquíssima, por sinal) que tem à própria volta. Aprendemos desde a escola a língua inglesa, mas menosprezamos a mais próxima e quarta língua mais falada do mundo, o espanhol. Temos a cultura estadunidense enraizada em nós e não contestamos mais isso. Em parte, recebemos essa influência por causa de certo alinhamento político aos Estados Unidos, antes da virada do século. Tanto, que quando passamos a conviver diretamente com um governo, por horas contrário ao Tio Sam, reproduzimos o discurso de medo às políticas bolivarianas. Discurso criado pelos EUA. Ainda existem pessoas que chamam estadunidenses de americanos, sem se lembrar que americanos somos nós, americanos são os argentinos, os bolivianos, peruanos e chilenos.

 

Considerada a emissora de TV com a segunda melhor programação do mundo, a TV Cultura é um ponto importante no jornalismo brasileiro. Assim como a BBC One, da Grã-Bretanha, a emissora é uma empresa público-privada. Entretanto, ao contrário da BBC, não emplaca na opção dos brasileiros. Com uma falha na educação da maioria, a disseminação de conhecimento não atrai público no Brasil. E sobre a América Latina, ainda é pior, pois já existe um déficit no que o brasileiro conhece sobre o continente. Em uma das principais atrações jornalísticas do canal e da TV brasileira, o Roda Viva, Fidel Castro, ex-presidente cubano, foi entrevistado certa vez. Essa abertura à cultura latina é essencial para a desconstrução da imagem distorcida veiculada nos principais meios. Grande parte das notícias do Jornal da Cultura que envolvem a parte Latina da América parecem tentativas de unificar o continente, desmistificando o medo do bolivarianismo que ronda a ala conservadora tupiniquim.

 

 Por exercer um serviço à sociedade, a TV Cultura acaba se tornando produto de certa elite intelectual e não consegue dialogar com as massas. A América vista na emissora da Fundação Padre Anchieta é um pouco mais próxima do que a surreal vista em meios comuns. Basta querer vê-la, pegar o controle e fazer aquilo que muitos pensam ser impossível: mudar de canal.

 

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