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Hora dos hermanos

 

Thamires Mattos

 

A região sul do Brasil é taxada de separatista. Movimentos como "O Sul é meu País" volta e meia ganham força. Embora nem todos concordem com esta linha de pensamento, o jornal gaúcho Zero Hora é separatista, de uma maneira especial. Não foge aos temas pertinentes da América Latina, principalmente quando os países envolvidos são os vizinhos Uruguai e Argentina. O Mercosul ocupa grande parte do noticiário. Por isso é um jornal separatista - afinal, falar dos "hermanos" aqui no Brasil parece ser crime para outros.

 

O jornal diário, fundado em 4 de maio de 1964, é o sexto com maior circulação no país. Sua sede fica em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Pertencente ao Grupo RBS, a Zero Hora conta com mais de 200 jornalistas, distribuídos em funções pelos 24 cadernos (diários ou não) e 70 colunistas. Em todos eles, o regionalismo impera. Pode ser que o Sul não seja o país de Zero Hora, mas, o Rio Grande do Sul, com certeza, é - implicitamente falando.

 

A vizinhança

 

A constante interação gaúcha com o Uruguai e a Argentina é tida como digna de notícias pela ZH. O até o "portunhol" (o espanhol capenga dos brasileiros ou o português carregado de sotaque de nossos vizinhos) é assunto pautado. A língua "estranha" e não-oficial é muito falada pelos habitantes das fronteiras. No dia 5 de setembro de 2014, ao falar sobre o curta-metragem "A linha imaginária", que se refere à fronteira seca entre Santana do Livramento, cidade gaúcha, e Rivera, cidade uruguaia, o título da reportagem foi: "Artistas usam portunhol da fronteira Brasil-Uruguai para criar obras líricas e singulares". Embora o título promova a interação Brasil-Uruguai, o lead é mais incisivo. "Para alguns escritores e compositores, músicos e poetas, a fronteira entre Brasil e Uruguai não é um local de divisão, mas de junção. De convergência."

 

A convergência não se dá apenas na cultura, afinal, segundo o New York Times, os times de futebol gaúchos se assemelham mais aos argentinos e uruguaios do que aos outros brasileiros. O futebol feito por esses dois vizinhos latino-americanos sempre é pautado pela Zero Hora. A última cobertura "de peso" foi a do Superclássico das Américas, amistoso entre Brasil e Argentina realizado em Pequim no dia 11 de outubro de 2014.

 

No entanto, a Argentina não aparece nas páginas do jornal apenas pelo seu futebol: os temas variam de cultura à economia. "Argentina tenta redescobrir as suas raízes africanas"é o título de uma reportagem do dia 23 de setembro, feita em parceria com o jornal americano The New York Times. A matéria narra a saga da cultura afro-argentina, que foi esquecida e renegada por muitos anos. Reportagens sobre turismo em terras hermanas são comuns. O lado ruim do vizinho também é mostrado.  "Como a Argentina passou de nação rica a país em recessão e déficit de credibilidade - em um século, país sucumbe a populismo, corrupção e gasto público desenfreado", matéria publicada no dia 3 de agosto de 2014, expõe os erros cometidos pelo país que está em default técnico e faz comparações com alguns acertos do Brasil.

 

Outros países latino-americanos também são destacados no jornal, principalmente na editoria de Política. Entre os principais, estão Bolívia (que acaba de passar por eleições presidenciais, acompanhadas por ZH) e Venezuela. Mas, não há como negar que o Uruguai e a Argentina são os "queridinhos" da Zero Hora. Com responsabilidade, o interesse público é pautado.

    
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