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Próxima da utopia

 

Thamires Mattos

 

Coberturas que cheguem perto da imparcialidade do início ao fim são praticamente utópicas. Interesses políticos, econômicos e sociais moldam a linha editorial de cada veículo de comunicação. A verdade tão pregada pelo jornalismo é esquartejada e distribuída ao consumidor da informação que acredita nos fragmentos da história. A Folha de São Paulo tem como lema não distribuir peças de notícia, mas prestar um serviço a população. "Um jornal a serviço do Brasil" é a frase vista em suas capas. Mas, se for só na capa, não adianta.

 

No final do ano passado, enquanto a mídia explorava o escândalo na petrolífera estatal Petrobras, a Folha já fazia linhas do tempo sobre a Lava-Jato para situar o leitor que precisa entender o contexto histórico e político. Notícias como Entenda a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, do dia 14 de novembro de 2014, conta os primórdios da investigação: “Com início em um posto de gasolina de onde surgiu seu nome, a Operação Lava-Jato, deflagrada em março de 2014, investiga um grande esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e políticos. (...) Relator dos processos relativos à Operação Lava-Jato no STF, o ministro Teori Zavascki autorizou a abertura de investigação contra políticos de seis partidos: PT, PSDB, PMDB, PP, SD e PTB. Além disso, ele também tirou o sigilo dos 28 pedidos de abertura de inquérito e acatou sete pedidos de arquivamento”.

 

É interessante notar que palavras “fortes” são utilizadas pelo portal de notícias da Folha de S. Paulo para classificar algumas “áreas” da Operação que também é denominada Petrolão. O infográfico É o juízo final? ressalta os prejuízos que ainda podem chegar à empresa e às grandes empreiteiras envolvidas no caso. O melodramatismo presente choca o leitor, que procura prestar atenção nas informações. Quanto à expressão Petrolão, já está ficando em pé de igualdade com Mensalão. Nomes populares como esses ajudam o público a identificar o assunto.

 

Como visto na edição anterior do Canal da Imprensa, a Folha tem a tendência de favorecer alguns lados do poder. Durante as eleições federais e estaduais de 2014, o assunto da crise hídrica não foi abordado com a tenacidade de outros veículos de comunicação. Uma das hipóteses mais prováveis para esse acontecimento é que o jornal procurou esconder os erros do governo do estado de São Paulo, ajudando assim a reeleição de Geraldo Alckmin, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Por outro lado, uma cobertura bem feita da Operação Lava-Jato leva o leitor a olhar mais criticamente para o governo federal, que não é comandado pela base política tradicionalmente apoiada pela Folha de S. Paulo - Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores (PT). Apesar disso, a Folha não tem citado apenas o PT como culpado pelo escândalo na petrolífera. PP, PMDB, PSB e, até mesmo, o PSDB são citados como responsáveis pelo caos político e econômico atual.

 

Na maior parte das vezes, desde o início da cobertura do Petrolão, a Folha de São Paulo tem feito jus à seu lema. O "jornal a serviço do Brasil" tem mostrado fatos, dados, explicações e mostrado os diversos lados de uma história de proporções trágicas para o Brasil. No final das contas, talvez estejamos no juízo final. Só torçamos para que esse julgamento seja feito com honestidade pelos órgãos responsáveis. 

 

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