Desconformidades na apuração da Lava-Jato
Juliana Dorneles
Certa vez, há alguns anos atrás, sentada em uma sala de espera, li uma reportagem da revista Veja. Hoje, já não lembro exatamente o viés que a reportagem tomou, lembro-me somente que o assunto era Mensalão. Nesta época, eu não me interessava e nem entendia de política. Após ler - sem ter senso crítico -, lembro-me claramente o conflito que se criou na minha cabeça: revista ousada ou antiética? A Veja usava palavras e expressões hostis, mas eu não conseguia definir se isso era bom ou ruim. Após ler mais algumas páginas disse: “nossa, essa revista é demais! Fala tudo e está do lado do povo”!
Anos depois, examinando criticamente essa e outras revistas, pesquisando e me inteirando do assunto, mudei de opinião. Percebi que a revista é parcial e muitas vezes antiética. Desse modo, conclui que é muito fácil ludibriar o leitor leigo. Entretanto para que você não caia no mesmo engano te convido a analisar a semanária Veja nessa edição.
Ao ler qualquer matéria; observar as capas, os títulos das reportagens e olhar as fotos, fica claro o aspecto anti-petista das apurações. Falando em fotos e abrindo parênteses, a reportagem intitulada Dilma monta 'junta de ministros' para tentar salvar base - publicada no dia 10 de março deste ano - é um bom exemplo da parcialidade da Veja. Sobreposta a uma foto na qual aparece um olhar maligno da presidenta está Dilma cabisbaixa, com expressão de derrota e cansaço. Isso revela a descarada opinião da revista perante a atual situação política brasileira.
Notei algumas desconformidades com relação ao assunto mais cotado do momento: o Escândalo da Lava-Jato. A revista parece, às vezes, lidar com muita seriedade, imparcialidade e ética. Na reportagem Lava Jato chega ao PT: Vaccari e Duque são denunciados por lavagem e corrupção é noticiado ao leitor o que está acontecendo sem imposição de opinião. O texto alega que Vaccari foi acusado como responsável por receber propina em nome do Partido dos Trabalhadores (PT). Contudo no parágrafo seguinte é apresentado o relato do advogado de Vaccari. Isso demonstra que os dois lados da história foram expostos.
Já em outros casos, não aconteceu o mesmo. Não tem como esquecer a edição 2397 que tinha por título Eles sabiam de tudo. Caso você não tenha lido, vou resumi-la. A revista afirmou que o doleiro Alberto Youssef, em um interrogatório, apontou Dilma e Lula como conhecedores das transações ilícitas feitas pela estatal Petrobras. Na capa, aparecia metade do rosto de ambos os presidentes com sobrancelhas arqueadas e expressão de vilões - sem contar o plano de fundo preto. Mas, indo além da estética da revista e, entrando no conteúdo, nos deparamos com algumas incógnitas. Uma delas é que, segundo uma teoria, o dito interrogatório de Youssef nunca existiu.
Depois da polêmica e da apuração, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concedeu direito de resposta à presidenta. Nessa publicação posterior, o advogado de Youssef, Antônio Figueiredo Bastos, confirmou que tudo teria sido invenção da Veja. Caso tudo se confirme, está mais do que “na cara” que a revista queria interferir no resultado das eleições presidenciais, já que a edição foi às bancas dias antes da votação.
Acredito ser este o caso mais polêmico da Veja com relação a Lava-Jato. Infelizmente, a cobertura não tem sido positiva. Mas, dizer que por esse motivo a Veja é totalmente parcial não seria correto, pois em algumas matérias ela até foi leal ao fato. No entanto o que se pode notar é que, quando o tema é vinculado ao PT, a revista “apela”. Assim, poderíamos concluir, então, que Veja perde a cabeça a partir do momento que o PT entra na história como uma possível ameaça.