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Sobrevivência dos ícones

 

Kelson Brecht

 

De geração em geração, os problemas tomam contornos cada vez mais exagerados. As faixas etárias são levadas a um patamar cada vez mais crítico com relação aos seus antecessores, e seus ídolos essenciais são substituídos, esquecidos ou destruídos ao longo dos anos.

 

Na mente de uma criança, o belo é algo puro e fantástico. Quando ela entra em contato com os ícones de histórias em quadrinhos ou contos de fadas, estas diversas e coloridas figuras representadas são esculturais, perfeitas em fisionomia e proporcionalmente bonitas. Crescer com essa ideia pode ser saudável até certo ponto, pois, nesse caso, é possível distinguir o fantasioso do real, ou seja, é possível contrastar o alcançável/real do inalcançável/irreal. Por outro lado, assimilar o contexto destes mundos e personagens fictícios e crescer com a ideia de que a perfeição é impositiva e necessária, pode ser um minúsculo exemplo das causas de uma febre na nossa sociedade. E isso é uma insistente maneira de ditar comportamentos e aparências.

 

Quando se dá um rápido vislumbre sobre os indivíduos de qualquer época ou lugar, é fácil identificar uma norma de estilo de vida e fisionomia. No contexto atual, a situação não é diferente. O desequilíbrio está na maneira como esse padrão é assimilado, seja ele passado e aceito uniformemente ou imposto e propagado como regra. A sociedade expressa através de gritos esta necessidade de se adequar e atingir as cobiçadas medidas. Fazer parte “da moda” é pré- requisito para ser aceito e apreciado pelos iguais. Fazer parte do padrão torna-se necessário, sem qualquer questionamento.

 

Os ícones inocentemente belos da infância são deixados de lado e trocados por símbolos maliciosos e donos de fisionomias fabricadas ou apresentadas como obrigação. Na busca por pertencer e adequar- se, o bom senso e autocontrole podem tornar-se nulos e atalhos completamente inválidos. O lucro, no fim, não vai para os caçadores desta “perfeição”, mas sim para aqueles que prometem o inalcançável.

 

No processo para a venda da imagem ideal, vale qualquer coisa. Entre elas, vender de tudo sobre o assunto, ditar o que deve ser comido/bebido e vestido ou anunciar dietas milagrosas. A obsessão por pertencer leva os descontrolados e inconformados a cometerem verdadeiras atrocidades com os próprios corpos. Desde mutilações mortais a distúrbios alimentares com danos igualmente irreversíveis.

 

Em um cenário como este surge na internet o BuzzFeed, uma grande companhia midiática de notícias e entretenimento fundada nos Estados Unidos em 2006 por Jonah Peretti. O site cresceu e logo chegou ao Brasil, trazendo um olhar descontraído sobre assuntos diversos do cotidiano. A intenção do portal é clara: entreter e informar. No processo, a abordagem do BuzzFeed torna-se inofensiva justamente por jamais deixar de ter um tom descontraído e informal. Ao tratar de assuntos como beleza e dietas, o site não faz questão de enxergá-los como nada além de simples dicas inofensivas sobre maquiagem feminina.

 

Em uma sociedade sufocada e necessitada de uma visão inocente sobre o belo, é interessante notar como os ícones primários construídos como exemplos e padrões saudáveis ainda permanecem intactos graças à falta de visão e bom senso de muitos. Por fim, o portal acaba propagando um conceito de beleza autêntica justamente por jamais levá-la a sério ou tratá-la como único foco. 

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