Grilhões da mídia

 

A Indústria da Beleza é considerada uma ditadura sutil e opressiva, tornando os jovens escravos do próprio corpo 

 

Benaya Vancine

 

Atualmente, a preocupação com o corpo perfeito vem mudando o comportamento e a concepção da sociedade. Tendo como parâmetro ideal a magreza excessiva, a Indústria da Beleza apresenta objetivos difíceis ou até impossíveis de se alcançar. Com isso, altas quantias são gastas. As consequências são sérios problemas com a autoestima, distúrbios alimentares e a mudança da percepção quanto ao próprio corpo.

 

As mulheres são consideradas bonitas ou não, de acordo com o padrão estabelecido em cada época. No período renascentista, por exemplo, mulheres belas eram aquelas consideradas “cheinhas”. Já no início do século XX, as mulheres se espremiam em desumanos espartilhos. O padrão de beleza atual é imageticamente representado por modelos altas, magras, jovens e, claro, bem sucedidas devido a sua aparência.

 

Muitos ultrapassam todos os limites em busca do corpo perfeito e se tornam cada vez mais fúteis. Escravizam o próprio corpo e perdem sua identidade na procura incansável pela beleza. Essa ditadura oprime, destrói e asfixia a liberdade e os sonhos de adolescentes e adultos, criando uma espécie de genocídio estético.

 

Com isso, novos avanços estão tomando conta da Indústria Cosmética que desenvolve produtos e técnicas, as quais ajudam na busca pelo corpo perfeito. Na mídia, a magreza está diretamente ligada ao poder, ao sucesso, à popularidade e à aceitação em todos os âmbito da vida.

 

A Capricho é um revista mensal, que existe há aproximadamente 60 anos. Destinada ao público jovem/adolescente, nela são apresentadas matérias sobre moda, beleza, comportamento e sobre a vida de famosos. Há uma preocupação em passar aos leitores reportagens sobre cuidados com o corpo, atividades físicas, dietas e dicas de como ter uma pele perfeita. São apresentadas propagandas de produtos e comportamentos à fim de atingir o padrão de beleza almejado por seu público-alvo.

 

“Como chegar linda ao fim do ano” é um dos temas abordados pela revista que mostra como é possível chegar ao verão com o corpo “perfeito”, apresentando a substituição de alguns alimentos para alcançar essa meta. Até ai nenhum problema, já que alguns hábitos são sim saudáveis. Mas a dificuldade aparece quando o jovem acaba se preocupando demasiadamente com a estética corporal e acaba sacrificando sua saúde para atingir o “sucesso”.

 

Escancarado em capas e fotos ou nas entrelinhas das matérias está o padrão de beleza a ser copiado. Os “ídolos” teen são mostrados como estereótipos a serem enaltecidos. O ideal de corpo perfeito indicado pela revista e pela sociedade leva os adolescentes à insatisfação crônica. Assim, há uma deteriorização física e mental.

 

A Capricho também apresenta tendências de moda e estilo através de reportagens sobre cabelo, unhas, maquiagens e o que está em alta para se conquistar um espaço no meio social. Trazem artistas como inspiração, expondo os segredos da intimidade da vida das celebridades, as quais são seguidas como protótipo perfeito pelos leitores. Isso faz com que os jovens percam sua identidade e se preocupem mais em parecer do que ser alguém. Outra questão que me chamou atenção foram os testes que são preocupações e deduções superficiais que acabam alienando o público e induzindo-o à uma ilusão.

 

Na editoria de beleza da revista, em sua sessão “Arquivo corpo”, são apresentados diversos conteúdos que mostram como é possível melhorar a autoestima, respeitar e amar o corpo e criticar a magreza e a obsessão pelo corpo perfeito. Dessa forma, a Capricho embota a percepção crítica de nossas crianças e adolescente com relação à ditadura da beleza. A revista não respeita a diversidade do ser humano. Impõe conscientemente um padrão não apenas de beleza, mas de comportamento. Cria problemas nas edições mensais e, posteriormente, os “soluciona” nas publicações seguintes. Devido a esse paradoxo midiático, os jovens ficam confusos. Contudo aceitam as saídas como verdades absolutas.