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Cerveja e mulher: objetos de prazer

 

As propagandas de cerveja mostram a mulher como um objeto de prazer dado ao homem; assim, ele pode fazer o que quiser com ela 

 

Aline Oliveira

 

Todo mundo em algum momento da sua vida entrou em contato com alguma campanha publicitária de cerveja. Na maior parte do tempo, nem damos atenção para esse tipo de publicidade, o qual toma conta dos comercias de televisão, anúncios de revistas e jornais e outdooors. Já reparou que na maioria dessas divulgações de cerveja sempre tem uma mulher "gostosona" no meio? Nem sempre damos relevância para o que as propagandas pregam a respeito do estereótipo da mulher, e isso é um problema já que a luta pela igualdade dos gêneros vem se desenvolvendo e ganhando, cada dia, mais adeptos.

 

A Skol fez uma campanha de carnaval que possuíam os seguintes slogans: "Deixei o não em casa" e "Topo antes de saber a pergunta". A publicitária e ilustradora Pri Ferreira e a jornalista Mila Alves se manifestaram contra a propaganda, acrescentando ao cartaz os seguintes dizeres: “e trouxe o nunca”. Para elas e outros internautas, a Skol estaria incentivando o abuso contra a mulher. Depois de tantas reclamações a empresa se retratou. Pediu desculpas pela propaganda de sentido dúbio e mudou os slogans para: “Não deu jogo? Tire o time de campo”, “Quando um não quer, o outro vai dançar” e “Tomou bota? Vai atrás do trio” e, no final de cada frase havia uma advertência: “Neste Carnaval, respeite”.

 

Apesar de se retratarem, as antigas campanhas da Skol mostram como a marca vê a mulher. No comercial de televisão do início dos anos 2000, é mostrada uma mulher loira, magra e de biquíni representando a marca que desce redondo. Em outros anúncios de revistas e jornais foi mostrado como seriam as invenções do controle remoto, do bebedouro, do sutiã, do provador e da tarja de censura caso esses fossem idealizados pela marca de cerveja. Em todas as publicidades inventadas, a mulher tem seu corpo exposto de forma erotizada.

 

A Skol não foi a única a fazer campanhas com grande apelo sexual. A sua concorrente, a Itaipava, investiu no verão para fazer o seu merchandising. Porém o verão foi veiculado tanto como a estação quanto como a mulher, Vera. O slogan da campanha é “O Verão é nosso” e todos os anúncios feitos pela companhia também se referiam à modelo ou ao corpo dela. Na mensagem “Escolha o seu destino”, ao redor do corpo do Verão, está o nome de diversas cidades.

 

Em outra peça, “Faça a sua escolha”, a modelo expõe a cerveja nas opções 300ml, 350ml e 600ml, que também faz alusão ao tamanho do silicone. Nos comerciais de televisão é bem nítido que os homens estão se referindo ao corpo escultural da modelo, como no caso da propaganda intitulada “Sair do mar”, onde um homem, que está dentro do mar, observa a Verão sair e ir para praia e acaba tendo uma ereção. Então, um outro homem dá dicas de como sair dessa situação numa boa. Esse e outros comercias da empresa corroboram que para esse mercado a importância das mulheres se assemelha à da cerveja, ou seja, oferecer prazer ao homem.

 

Nos dois casos mencionados anteriormente fica claro o ponto de vista de ambas as instituições. A mulher "boa" é aquela que possui seios fartos, bumbum grande e firme, que é sexy na maneira de vestir, andar e falar; e o que tem de bom a oferecer é apenas o seu corpo. Quando a mulher não é representada dessa forma, é retratada como a esposa ciumenta, conservadora, que não sabe se divertir e, por isso, estraga a diversão do marido. Além da sua beleza não chegar nem aos pés da “gostosona" que está em evidência nas propagandas. Esses dois estereótipos estão presentes nas duas empresas e em outras também. A Devassa teve uma de suas propagandas proibida de circular na televisão, por ser considerada de alto teor sexual. E a Schin segue a mesma linha machista da ênfase nociva ao corpo feminino, ainda que mais branda na abordagem.

 

Há muitos comentários a favor e contra os comerciais de cerveja. Os que apoiam as campanhas afirmam que são apenas humorísticas, quem não gosta não sabe rir da brincadeira. Enquanto os que são contra, acreditam que essas peças tiram o valor da mulher, a objetifica, não a respeita como um ser humano e ainda incentiva a violência física, emocional e psicologia.

 

Um grupo de publicitárias criou a Cerveja Feminista, ela não é um produto específico para as mulheres. Ela é destinada à quaisquer gêneros. As suas criadoras a fizeram com o objetivo de discutir como a imagem feminina é pregada nas propagandas, consideradas machistas. Já que muitas mulheres também consomem a bebida.

 

É possível, sim, fazer comerciais de cerveja engraçados e que não machuquem a imagem da mulher, muitas propagandas do nosso país e até de fora mostram isso. Falta vontade de mudar esse padrão imposto há tanto tempo sobre a mulher. Um padrão que não valoriza o seu caráter e o seu intelecto, que só se preocupa com o corpo “gostoso" e em forma. As mulheres são mais que um corpo sexy e merecem ser valorizadas de forma correta. O corpo é delas e não dos homens. Por isso, não cabe a eles definir o padrão de beleza ideal, mas cabe a eles nos respeitar. 

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