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Certos verbetes e a mulher

 

Andréia Moura

 

Antes de começar este texto, estabeleçamos alguns pontos:

1. Mulher bonita é burra. (humm)

2. Toda mulher, para estar em cargo de chefia, tem que ser masculinizada (aff..)

3. Mulher bonita que é chefe fez o teste do sofá ou é casada com o dono da empresa (eca!)

4. Mulher se preocupa mais com roupas e maquiagem do que com política externa (jura?)

5. Mulher competente é desleixada, se usa maquiagem é incompetente (morri)

6. Mulher feia e competente, vai na entrevista de trabalho para a vaga de secretária, mas é preterida pela mulher linda e incompetente, sempre. (ué...)

7. Mulher tem que aguentar todos estes estereótipos e ainda por cima ganhar 25% a menos que homens na mesma posição??? (OK)

 

Agora que elenquei algumas das premissas que determinam o papel da mulher no mundo corporativo e (em maior escala) na vida, posso tecer meus comentários (ácidos comentários) sobre o tema: mulher, beleza e mercado de trabalho!

 

Me parece um pouco heróico que mulheres consigam se afirmar (com absoluto sucesso) no mercado de trabalho em uma sociedade tão preconceituosa e machista como a nossa. Alto lá! Não estou nem de longe defendendo as bandeiras extremistas do feminismo. Acho que os extremos são sempre equívocos. Mas não podemos desconsiderar, em nada, o aspecto estético que o mercado de trabalho brasileiro alimenta e as consequências e discriminação resultantes disto.

 

Pesquisa do Data Popular, feita em 2014, revelou que 57% dos brasileiros acredita que uma mulher bonita tem mais chance de crescer profissionalmente, mas segundo a mesma pesquisa 48% afirmam que as mulheres inteligentes e bem empregadas que conhecem são feias.  Bom, se as mulheres bonitas prosperam mais no trabalho, mas ainda assim não são inteligentes, tem um erro conceitual gigante aqui. Pressupõe-se então que uma mulher deve cuidar da aparência para manter o emprego, mas não deve preocupar-se em nada com sua formação intelectual, visto que sua ascensão virá, inevitavelmente, de sua capacidade de seduzir.

 

Uma visão como esta, que aparentemente é dominante no país, me enoja. Se você não corresponde aos ideais de beleza impostos, está na lista negra do mercado de trabalho. Se você corresponde a tais ideais será avaliada por sua sensualidade, APENAS. Estamos reduzidas, por tais padrões imorais, a uns 3 ou 4 verbetes pouco lisongeiros. Bonita é burra, safadinha, sensual, fútil...

 

E ninguém entende porque algumas das lindas mulheres do mundo precisam se despir de suas feminilidades, de seus interesses pela estética, do prazer de se verem belas, para que sejam respeitadas profissionalmente, para que possam ser eficientes, competentes e comandar sem assédio ou descrédito?

 

Até quando seremos assediadas deste jeito? Assediadas com este tipo de conceitos e pré-conceitos? Obrigadas e doutrinadas para nos submetermos a eles? Pressionadas para manter este padrão de pensamento machista? Até quando os comerciais de cerveja, as capas das revistas de moda, programas de comportamento e beleza durante a tarde, vão continuar ensinando um homem sobre o tipo capacidade e inteligência que uma bela mulher deve ter? Até quando aceitaremos o fardo destas concepções sem o merecido salário? Um igualitário salário?

 

Me canso!

 

Uma canseira advinda da percepção de que a mulher objetificada e burra nasceu há tanto tempo que para destruir tais concepções precisaríamos refazer o mundo. É uma ideia milenar. No entanto, nada disto impede que lutemos contra imposições do tipo. Contra estes estereótipos, hoje, perpetuados pela mídia. Uma luta lenta, é fato. Mas que não se deve deixar vencer jamais.

 

Podemos sim ser lindas, bem cuidadas, entender de roupas e maquiagem, andar perfumadas, com cabelo na última moda, unhas feitas, tudo isto e, ainda assim, sermos audaciosas nos negócios, competentes, dignas, eficientes, gerenciadoras de conflitos, inteligentíssimas, "nerds", pragmáticas, boas com logística, líderes, estrategistas... Enfim, poderia acrescentar a esta lista um "sem número" de verbetes, e estes sim, muito mais lisongeiros.

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