Ser belo: a doutrina da insatisfação
Acho a questão da beleza uma coisa pra lá de engraçada...
Porque cada debate que a assume como tema, está fadado a obsolescência. Ser belo é dos conceitos mais que flutuantes. Quântico.
Beleza no séc. XV, para os olhos de uma sociedade que produziu Da Vinci e Michelangelo, significava uma série de coisas. Ser belo hoje, em um contexto de Vogues, Barbies e Kens, e Hollywood é outro tipo de coisa...
Então, em que âmbito a discussão desta temática importa? Em que aspecto acrescenta?
O que é belo? O que é feio? Como lidar com as questões da estética?
Beleza, segundo pensadores com Platão, Hegel e Kant é qualidade que atribuímos aos objetos a fim de que exprimam certo estado de nossa subjetividade. Portanto, a beleza é (sempre) reflexo do homem de seu próprio tempo. Em tempos de mídia, o que é possível notar (e neste ponto é que esta discussão se faz válida) é que este conceito e as instituições que o regulam (criam, difundem e mantêm) antes de definirem o belo de seu tempo e as aspirações humanas quanto a isto, passaram a fazer o contrário. Criar uma massa de feiura e de aspirações doentias e sem sentido.
Explico. No afã de definir o que é belo, o que deve ser considerado lindo, no exercício de impor padrões e conceitos estéticos, estas instituições (lideradas pela mídia) geram um efeito colateral: a insatisfação constante e a corrida doentia por perfeição que produz excessos que beiram o "horror".
A mídia, (em toda sua amplitude - periódicos, televisão, rádio, cinema, literatura específica, etc.) regula a estética através de uma doutrina bem peculiar sobre o belo. Um discurso que não passa de um culto ao descontentamento pessoal. Insatisfação produtora de uma massa doente, um circo dos horrores, um padrão social que, antes de representar o "belo e o homem de seu tempo", revela o "feio e a perversão estética do próprio tempo".
A pergunta que a mídia lança a seus consumidores com constância é: a que ponto estou disposto a chegar a fim de satisfazer minha concepção de beleza construída? Quão insatisfeito posso ficar comigo mesmo?
Há uma visível distorção. Ser belo se tornou sinônimo de destruir a própria imagem, a identidade. Não quero ser belo, quero ser uma aberração. Céus! Onde foi que este trem mudou o rumo tão drasticamente? Ouso desconfiar, afirmar até, que este trem perdeu a noção enquanto transitava pelos meandros onde a comunicação de massa se desenvolveu.
Fato é que, nossa aparência importa, mas importa na medida em que a mídia a faz pauta de preocupação.
Portanto, a tirania da beleza é a ditadura do Agenda Setting! Pergunto: em que contextos se vence o agendamento?
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Andréia Moura
Editora-chefe do Canal da Imprensa