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Viva a revolução da beleza

 

Uma publicação que baseia-se em um padrão de beleza nada mais é do que o reflexo de uma sociedade machista e carente de criticidade. 

 

Daniela Fernandes

 

Conciliar moda, beleza e a vida das celebridades ao texto jornalístico não é algo simples. Entretenimento e informação são complementares a partir do momento em que são abordados de maneira equilibrada, sem que nenhum se sobreponha ao outro. Marie Claire desenvolve matérias curiosas sobre o ponto de vista da criticidade. Yasmin Brunet posta imagem de esqueleto e critica indústria da beleza é uma delas. Nesse texto é mostrado que a modelo rebateu os comentários da mídia de que estaria muito magra. A modelo postou uma imagem de uma mulher “cheia de curvas” que é transformada em um esqueleto e colocou a seguinte legenda: "oq era considerado sexy antigamente hoje em dia eh gordinha. Onde isso vai parar? Fale com seus filhos antes que a indústria da beleza fale com eles”.

 

Concumitantemente, a revista trata de “críticas” contra a Indústria da Beleza e estampa corpos magérrimos, brancos e de cabelos lisos em suas edições. Dessa forma, percebemos um duplo ponto de vista ao longo das páginas da revista, onde é colocado em dúvida o seu verdadeiro intuito de disseminar conteúdo e educar. Logo, o que fica evidente ao longo das publicações é a predominância da linha editorial de um mercado que impõe características às mulheres. Mercado este que antes não recebia nenhuma atenção da revista.

 

Marie Claire, ano após ano, vem perdendo seu objetivo inicial de encorajar mulheres a buscar independência e sucesso pessoal. Ou, tem adotado outro significado para seus objetivos. A revista foi criada na França na década de 30 por Jean Provost e era publicada semanalmente. As leitoras eram intelectuais e buscavam conteúdos jornalísticos de análise, principalmente com diversidade de temas sob a ótica feminina. Nos dias atuais, as propostas, agora mensais, se perderam e deram lugar a outro viés.

 

Foi através de reportagens e matérias bem elaboradas que Marie Claire se tornou a publicação mais vendida e conceituada no universo do público feminino. Fazendo jus, assim, a seu slogan “Chique é ser inteligente”. Porém, hoje, por influência da rentável Indústria da Beleza, os textos estão se limitando à temas como moda, beleza e celebridades, todos vinculados a um padrão pré-estabelecido do que é belo. Aos poucos, a revista vem adotando uma pequenez que se alterna entre futilidades do dito “universo feminino” e furos de notícias sobre celebridades.

 

Como educar o público feminino a lutar pela igualdade de gênero se as revistas destinadas à elas só corroboram a sua posição submissa ante a sociedade machista? Matérias sobre dietas milagrosas e rituais de beleza deveriam dar lugar a veiculação de conquistas femininas atuais e passadas. Junto com as modelos magras e brancas deveria aparecer também modelos que retratassem nossa diversidade racial. Esses são alguns exemplos do que se pode fazer para resgatar a antiga Marie Claire.

 

No entanto, ao mesmo tempo que perdeu a credibilidade entre algumas mulheres, a publicação ganhou influência sobre outras. Estas são as maiores prejudicadas, pois compram a ideia de que existe um modelo certo de beleza. O resultado é a submissão à medidas que colocam seus corpos em risco. Restrições alimentares, cirurgias plásticas, consumo abusivo de produtos estéticos, entre outros artigos e hábitos viram prioridade na vida de muitas jovens e adultas. Gerando, assim, um conflito interno e uma busca incessante pela perfeição corporal.

 

Uma publicação que se baseia em um padrão de beleza, como Marie Claire, nada mais é do que o reflexo de uma sociedade machista e carente de criticidade. Nesse momento se faz necessária uma revista com conceito diferenciado, o qual valorizaria o ser feminino seja ele qual for. Por fim, em tempos de manifestações, é preciso que se dê o grito da revolução da beleza, onde cada uma terá a liberdade de se sentir bem com o corpo que tem, sem sofrer pressões midiáticas. 

 

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