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A pandemia da culpabilidade midiática

 

Daniela Fernandes

 

A mídia é um dos instrumentos mais eficazes para garantir a saúde pública, por isso, tem papel importante no gerenciamento de crises como nos casos das epidemias. Como se trata de um assunto importante para a sociedade, a vigilância em saúde é tratada pelos jornalistas para que não haja possibilidade de comprometimento e risco de ruídos na informação. A veiculação desse tipo de notícia nos meios de comunicação vai de encontro com as opiniões de profissionais e técnicos da área sanitária. Sendo assim, o enfrentamento das doenças é abordado pela mídia através da contribuição de especialistas do setor. Contudo o que se reconhece não é o trabalho prestado pelos meios de comunicação. Há muitas pessoas que culpam a mídia pela suposta cobertura sensacionalista das pandemias. Alegam que a maneira utilizada para noticiar as doenças causa alarme exacerbado e desnecessário, além de gerar medo na população. E assim, consideram válido desqualificar a imprensa ao invés de refutá-la.

 

A epidemia de febre hemorrágica ebola é a doença atual que ocupa o noticiário da mídia. A enfermidade provocou a morte de 2.630 pessoas, segundo a Organização das Nações Unidas (OMS), e seu potencial mortífero pode ser ainda maior caso as autoridades não façam uma devida divulgação dos tipos de prevenção e cura dos pacientes. A disseminação dessa doença ocorre em países (Libéria, Serra Leoa, Guiné, etc) que não possuem serviços sanitários de qualidade e, ainda, abrigam uma população descrente em seus representantes políticos. Sem contar que o ebola é uma das doenças mais letais descobertas nos últimos tempos. Então, quaisquer tipos de abordagem jornalística poderiam soar como exagero nesse contexto, no entanto o que se vê é o reflexo da realidade estampada nos jornais.

 

A Influenza A H1N1, outra pandemia, é uma gripe identificada em 2009 no México que recebeu nível de alerta de pandemia fase 06, ou seja, nível máximo de acordo com a OMS. Na época, os meios de comunicação foram acusados de praticar sensacionalismo. Em resposta, para provar que o jornalismo sério não utiliza esses métodos, foi criado o “Guia para cobertura de pandemias”. O recurso online foi criado pela Fundação Nieman para o Jornalismo da Universidade de Harvard a fim de auxiliar os comunicadores em suas reportagens sobre o surgimento da gripe. Fato que evidencia a preocupação da mídia em evitar a cobertura com conteúdo desnecessário e permite o aperfeiçoamento da mesma.

 

Ninguém pode negar a possibilidade de ocorrência de uma epidemia e, muito menos, suas possíveis consequências indesejáveis. Ao tachar a imprensa de alarmista, é despertado um sentimento psicológico inútil e negativo nas pessoas. O objetivo do jornalista é trabalhar como elo entre o seu público e os especialistas de cada área. Assim, o que é veiculado na mídia deve interagir com a sociedade na medida em que as fontes profissionais utilizadas se fazem legítimas. 

 

A pandemia da culpabilidade midiática atinge somente aqueles que são “prejudicados” pelos meios de comunicação. A partir do momento que alguém percebe algum tipo de desvantagem provinda de qualquer cobertura jornalística, este se volta contra a imprensa e a demoniza. Isso acontece em inúmeras áreas da vida. Se nossa opinião é contestada por outrem, a tendência é negá-lo. Entretanto, no caso, o correto a se fazer é analisar o contexto de cada doença e saber se o suposto exagero da mídia é válido ou não.

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