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O Estadão que erradica pela denúncia 

 

Daniela Fernandes

 

Não há novidade alguma quando surgem discursos dizendo que a mídia causa medo e pavor à população quando o assunto abordado é pandemia. Porém as matérias e reportagens do jornal O Estado de S. Paulo provam o contrário e conduzem sua cobertura de maneira cautelosa e sem alarmes. O Estadão, pelo contrário, questiona a Organização Mundial da Saúde (OMS) quando esta exagera na divulgação da gravidade das doenças. O enfoque, então, é dado para as informações ligadas às soluções das doenças e às declarações prestadas por especialistas com relação ao provável fim da enfermidade. 

 

Com matérias veiculadas tendo, por exemplo, como título “Políticos europeus questionam gestão da gripe suína por laboratórios e OMS” e “Especialistas independentes vão revisar o status de pandemia da gripe suína”, o jornal relaciona ao longo dos textos a plausível ligação da posição alarmista por determinados órgãos ao estímulo do consumo de remédios. Logo, a questão medicamentosa pode ser colocada em pauta muito mais do que a prevenção em si. Assim, é causado o mínimo de pânico possível, entretanto é colocado sempre em discussão a possibilidade da indústria farmacêutica influenciar as decisões sobre cada pandemia.

 

Durante a pandemia de H1N1 de 2009, por exemplo, a OMS foi bombardeada de críticas. Na época, o Estadão divulgou que a eurodeputada francesa Michèle Rivasi disse que a OMS escondia os interesses econômicos da indústria farmacêutica por de trás da pandemia e Marc Gentilini, especialista em doenças infecciosas e membro da Academia Francesa de Medicina, afirmou que tudo pode ser resumido em "fraude sanitária". Imagine só se a Organização fosse financiada pelo setor farmacêutico! Seria imposta não apenas uma pandemia por ano, mas uma por trimestre. Seria o caos…

 

As medidas para conter uma epidemia custam caro, e não é qualquer governo que pode arcar com esses gastos. No caso mais recente, o vírus Ebola atingiu alguns dos países mais pobres da África como a Libéria, Serra Leoa e Guiné. Estes não desfrutam de boas condições de saúde e higiene local. Confirmando esses fatos, O Estado de São Paulo publicou uma matéria com a seguinte manchete: “OMS alerta que Ebola pode não ser erradicado”. As informações relatam um raro reconhecimento de fracasso advindo da própria Organização, o qual alerta que a doença pode vir a se tornar endêmica. 

 

Infelizmente, sabemos que a razão da impossibilidade da erradicação do Ebola provém da falta de interesse econômico mundial em países africanos. Não existe, até então, uma vacina ou remédio contra a doença e em cerca de 65% dos casos, o vírus é fatal. Ou seja, a única forma de se evitar uma contaminação são as medidas preventivas, condições higiênicas nos hospitais, uso de luvas e quarentena. E esta é exatamente a crítica implícita na cobertura jornalística do Estadão: a obrigatoriedade de determinados países terem que conviver com um surto de forma permanente sem que haja esforço internacional no combate.

 

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