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Muita calma nesta hora

 

Emanoel Junior

 

Certa vez ouvi em uma música da Elis Regina a seguinte frase: “Tenha medo não, tenha medo não. Nada é pior que tudo”. Guarde essa letra, eu a usarei mais para frente.

 

Olhando para o cenário atual, não consigo deixar de parafrasear Karl Marx. No entanto, dessa vez, a história não se repete como farsa. A tragédia do medo da morte vai e volta às nossas vidas de tempos em tempos, marcado por doenças terríveis. Desde a peste negra, que matou 1/3 da população europeia, o ser humano se depara com doenças que trazem insegurança. Quando esses momentos vêm, nos sentimos parte de um filme de fim do mundo, como “Eu sou a lenda", em que certo vírus dizima toda a população.

 

Esse sentimento se espalha e vai da conversa com os amigos a debates na televisão. Como parar a doença? Existe cura? Há cerca de dois anos, quando assistimos ao surto da Gripe Suína, corremos para farmácias para comprar álcool gel e máscaras. O medo de uma possível infecção foi instantâneo. Consequentemente, jornais e revistas reproduziram o sentimento em manchetes que alertavam para a gravidade da doença. Mesmo com os nervos à flor da pele, o vírus H1N1 foi “domado” e a epidemia controlada.

 

Em 2014, o temor bate à porta novamente e um surto de Ebola começa a se espalhar pela costa africana. Manchetes com números de infectados surgem nos portais de notícias e redes sociais e começam a mexer com a imaginação dos leitores. “E se chegar ao Brasil?”, se perguntam os desavisados. O processo de busca à cura se inicia longe do problema, em laboratórios e faculdades na Europa e Estados Unidos. Quando um médico estadunidense foi infectado e curado por um processo de transfusão de sangue, jornais passaram a noticiar a esperança da cura.

 

Mas fugindo do padrão de outros portais, a Folha de São Paulo não aterrorizou seus leitores com notícias sensacionalistas e manteve certa calma. Como se soubesse o fim da história, retratou os fatos, apresentou os números e se esquivou da tendência “fim do mundo” de certos sites noticiosos. Para o leitor assíduo da Folha, a doença foi um caso isolado, com soluções simples e que nunca deveria ter sido comparada a outras epidemias de grande escala.

 

Com outras pautas importantes, a Folha focou na corrida presidencial e nos ataques do Estado Islâmico. Mesmo assim, não deixou o fato da doença de lado. Assim como a Folha, acredito que existem coisas mais importantes para se fazer e noticiar do que confabular teorias sobre vírus que matam a população.

 

 

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