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Grobo e o Ebola

 

Nathália Lima

 

Ebola não é mais novidade para ninguém. Todos estão acompanhando, perplexos, pelas mídias o que se passa na costa africana. Milhares mortos, mais milhares infectados e o medo. Medo de algo acontecer aqui, já que a doença é tropical e o Brasil também. Mas será que isso está certo? Será este o papel da mídia em relação a esse assunto tão crítico?

 

Neste breve artigo, avaliaremos o que a Globo tem feito para melhorar (ou não) a visão dos espectadores em relação a esse assunto pandêmico.

 

Em vários textos publicados pelo G1, é possível perceber um cuidado em relação à maneira como o assunto é exposto. A explicação de como a doença afeta o corpo é bem didática. A ilustração de um homem com determinadas partes de seu corpo em destaque mostra quais são os principais sintomas da doença, em forma cronológica, até a possível (e provável) morte. Sendo assim, destaco o G1 como um não-promovente de pânico, sendo didático e explicativo.

 

Mudando de vertente, mas permanecendo na rede Globo, o Fantástico do último domingo apresentou uma reportagem especial que dava ao telespectador a esperança de uma possível cura para a doença. Com uma linguagem um tanto quanto sensacionalista, o ebola foi definido como “Uma epidemia considerada fora de controle”. Em uma frase um tanto quanto inoportuna publicada pelo G1, a Organização Mundial da Saúde (OMS) “advertiu que a epidemia pode se tornar uma catástrofe humana”. O problema não está na gravidade do assunto, mas na maneira como este é apresentado aos demais. A linguagem utilizada não está de acordo com a necessidade do público alvo, não específico em um programa de domingo à noite e que é lotado de assuntos diversos.

 

Havendo uma possibilidade desse vírus vir para o Brasil, qual o apoio que eles estariam dando a nós, reles mortais, em relação à esperança e veracidade? Falar desta maneira a um público misto e que, deveras, não entenda que o Brasil tem chances pequenas de receber a doença pode causar um sentimento de pânico pré-maturo.

 

Em relação à cura, foi possível perceber um sensacionalismo a mais na reportagem do Fantástico. Seria ele resultante de algum interesse financeiro? Para falar a verdade, a cura ainda não existe. Morreram mais de duas mil e quinhentas pessoas por causa dessa pandemia, mas, morrem, na África, por causa de malária, mais de 500 mil pessoas por surto. Se a Globo está chamando a atenção do público para esta doença e sua possível cura, algo em troca deve estar sendo ganho, não?  

 

Também é impossível (e até meio insano) gastar milhões em uma cura para o ebola e não se ganhar nada em troca. Não é à toa que, para uma doença que teve seu primeiro surto em 1976, a cura ainda esteja sendo pesquisada. Se o dinheiro não é proveniente dos povos necessitados, a mídia deve estar sendo a ponte financeira entre indústrias farmacêuticas e público. Tudo aqui é uma troca. No fim, nós é que estamos pagando para que a cura do ebola aconteça. Pensando bem, talvez não seja tão ruim assim. 

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