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Pandemias. Afinal, o que são?

 

Nathália Lima

 

Febre, dores de cabeça, hemorragia. Esses são alguns dos sintomas que inúmeras pessoas sentiram antes de morrer por causa de pandemias que assolaram o planeta ao longo da história. Para o mundo do século XXI, é difícil exemplificar doenças que se alastraram e mataram milhões no passado. O vírus ebola é um dos únicos exemplos atuais (se não o único) palpável e entendível atualmente.

 

Pandemia não é apenas um assunto atual. Historicamente falando, outros casos de pandemia antecederam o do ebola. Este é um tema atual, conhecido e altamente debatido. A primeira pandemia aconteceu muito antes do nascimento de Cristo. No ano de 430 a.C. o historiador Tucídides relatou ter acontecido uma grande peste em Atenas. Por causa da disseminação de um “inimigo invisível”, mais de 30 mil atenienses foram dizimados. Depois de contaminados, os soldados atenienses duravam nove dias e morriam. Uma em cada quatro pessoas infectadas não resistia. Outros muitos que sobreviviam, de acordo com o relato de Tucídides (historiador da época) perdiam dedos, ficavam cegos, ou até mesmo sem os órgãos genitais.

 

Pouco tempo atrás, o infectologista grego Manolis Papagrigorakis, da Universidade de Atenas, depois de anos de pesquisa, chegou à conclusão de que o vírus responsável pela pandemia que assolou Atenas é o mesmo que desencadeia a famosa febre tifoide.

 

Outros exemplos de pandemias mundiais que aconteceram no século passado são a Gripe Espanhola (1918 – 1919), que contaminou cerca de 40 milhões de pessoas e teve seus primeiros casos confirmados nos Estados Unidos (Kansas e Nova Iorque), a Gripe Asiática (1957 – 1958), deixando mais de dois milhões de mortos e a Gripe de Hong Kong (1968 – 1969), causada pelo vírus Influenza A H3N2, que matou cerca de um milhão de pessoas. Pode-se perceber uma diminuição em números ao decorrer dos anos. Menos pessoas morreram por causa das pandemias.

 

Ebola, a pandemia do século XXI

 

1976. Primeira grande epidemia de Ebola. Mais de 200 infectados. Mais da metade morreria mais tarde por causa da doença.

 

2014. Segunda grande epidemia de Ebola. Agora chama-se pandemia por causa de suas maiores proporções. O vírus ebola não é assunto novo. Ganhou apenas uma nova roupagem por estar matando milhares na costa africana. Mas como combatê-la? Será que existe cura?

 

Os médicos e pesquisadores envolvidos no desenvolvimento da droga para cura do Ebola não tem dados comprovados em relação à eficácia do medicamento. Testes feitos em animais também não deram total certeza sobre os possíveis efeitos colaterais. No entanto, uma medida estratégica e arriscada será testada nos próximos dias pelos pesquisadores na população africana. É isso que explica a médica infectologista Otília Helena Lupi da Rosa Santos. De acordo com Otília, o uso dos medicamentos em pacientes que apresentarem a doença será feito por “compaixão”. Como o próprio remédio ainda não é totalmente funcional, seu uso em seres humanos infectados é apenas uma “cartada final” antes que os testes tenham resultado positivo. “É muito importante que a pessoa que está recebendo a vacina tenha consciência e entendimento em relação aos riscos. Este deve entender e escolher tomar a vacina ou não”, argumenta a especialista.

 

Otília ainda ressalta que a preocupação e o problema de lidar com culturas diferentes das quais o brasileiro está habituado podem fazer com que os próprios médicos andem em uma “corda bamba”. “Na hora de conscientizá-lo do perigo de contágio, nós estamos descontruindo muito do que, para eles, é fundamental. Os mortos, por exemplo, são lavados, seus intestinos esvaziados com as mãos, recebem beijos e são idolatrados pelos familiares. Algo que aqui é absurdo, mas para eles é fundamental”, explica.

 

A jornalista Patrícia Campos Mello, correspondente e colunista da Folha de S. Paulo, foi a única profissional do ramo brasileira a visitar Serra Leoa. Ela comenta que a situação dos médicos no lugar é precária. Por esse motivo, muitos acabam morrendo. “Em uma ocasião, médicos do hospital público entraram em greve por falta de material para lidar com doentes contaminados pelo ebola. Eles não tinham luvas”, ressalta Patrícia.

 

O papel pandêmico da mídia

 

O jornalismo exerce papel social. Além de noticiar, tem a capacidade (e obrigação) de falar a verdade e manter seu público informado. Quando o assunto é, por exemplo, saúde mundial, o jornalista tem o dever de noticiar a realidade e, ao mesmo tempo, evitar o pânico. A linguagem usada para o público deve ser diferente da linguagem usada com profissionais da saúde. “Quem está no ramo e tem contato com os doentes deve ser alertado de maneira mais direta. Já a massa não precisa ser apavorada por comentários. Dessa maneira, estaremos diminuindo riscos”, argumenta a infectologista Otília. Sensacionalismo na hora de noticiar doenças pode trazer ao público uma expectativa ruim e, principalmente, medo. “Podemos ver um pouco de sensacionalismo na mídia. O problema é que, por causa disso, a epidemia que estamos tendo no Brasil é de pânico”, declara. Ajudar é diferente do que fazer alarde. Isso funciona para os dois lados.

 

A jornalista Patrícia destaca um problema social existente em Serra Leoa. Os moradores do local, por medo dos médicos e falta de conhecimento, acabam escondendo doentes e até mesmo mortos dentro de casa. Por esse motivo foi lançada uma campanha de conscientização. Durante três dias, ninguém podia sair de casa. Voluntários passavam de porta em porta e acabaram encontrando mais cerca de 130 casos novos da doença. “Devemos entender o que está acontecendo e ajudar da melhor forma possível. É difícil contribuir e falar sobre o assunto estando longe, mas não é impossível”, comenta Patrícia. No caso deles, a falta de informação está provocando medo, mas algo já está sendo feito para que eles se conscientizem da melhor maneira possível. No Brasil, o possível excesso tenha consequências mais tarde. O que fazer para equilibrar? Seria a mídia a culpada pela pandemia do “pânico” no Brasil? 

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