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Amélia, a mulher de verdade

 

Em pleno século 21 a mentalidade machista de que Amélia era mulher de verdade ainda existe mesmo que de maneira velada e, inclusive, é incentivada indiretamente por algumas revistas femininas brasileiras.

 

Esthéfanie Vila Maior

 

A luta das mulheres contra o machismo não é de hoje. O direito ao voto em 1932 e a inserção do sexo feminino no mercado de trabalho foram grandes conquistas. No entanto a guerra dos sexos ainda está muito distante do seu fim. As vitórias femininas não aconteceram somente no âmbito político e profissional. Até a década de 20 as mulheres não podiam usar uma calça, por exemplo. Somente na Primeira Guerra Mundial, quando só restaram as mulheres para as “tarefas fora de casa”, tal fato se tornou parte do nosso cotidiano graças à estilista Coco Chanel.

 

No Brasil, a existência do preconceito ainda predomina, mesmo que de maneira velada. Recentemente uma pesquisa com dados errôneos deu início à campanha “eu não mereço ser estuprada”, principal questão na pauta dos internautas. A luta agora é contra o machismo “camuflado” na diferença salarial, nas cantadas dignas de aversão e na ideia de que mulher que usa roupas sensuais merece ser atacada.

 

Atualmente, as revistas femininas também abordam assuntos de cunho social e comportamental. O machismo e futilidade, que predominavam nos periódicos, dão lugar a uma mulher que pode sim ter os mesmos direitos de um homem.

 

A revista Marie Claire (MC) é um exemplo das que levantaram a bandeira da mulher do século 21 – com reportagens que discutem questões que vão além das últimas tendências. Na edição de março de 2014, por exemplo, a MC questionou a permanência do machismo na sociedade brasileira aos olhos do sexo masculino.

 

Por meio de uma reportagem especial, a revista discutiu a mentalidade machista e a luta pela ascensão das mulheres, principalmente no mercado de trabalho, sob o olhar de homens de diversas profissões. Destacam-se frases como a do lutador de MMA, Júnior Cigano: “Lutadora de verdade é a minha mãe, que enfrentou o marido machista e criou três filhos com o salário de faxineira.” Ou a do ator Milhem Cortaz, que afirma que “o machismo não passa de uma insegurança masculina”.

 

Entretanto essa não é a realidade predominante no mercado das revistas. A revista Capricho, cujo público alvo são as adolescentes, por sua vez, não trilha o mesmo caminho. Com pautas como “Playlist: músicas para ouvir pensando naquele gatinho” ou “Estudo mostra quantos garotos você vai ter que beijar até achar o cara certo” compõem uma das revistas de maior influência sob leitoras que estão em processo de educação e formação. Quanto mais fútil, melhor.

 

O mais próximo que se chega de conteúdo de relevância, são as itgirls que defendem uma mulher independente ou porque está na moda. O que é o caso da reportagem veiculada no final do ano passado “O girlpower está na moda! Veja as famosas que defendem o movimento”, aonde a revista, que também se posicionava como girlpower, preparou uma galeria com as celebridades que levantam a bandeira do feminismo.

 

O estereótipo de que mulher de verdade era aquela que “lavava, engomava, cozinhava, apanhava e não reclama”, vulgo Amélia, ainda persiste. Mas opiniões como a do ator Rodrigo Hilbert surgiram em meio à guerra dos sexos: “Se um dia foi ela a ‘mulher de verdade’, eu mentiria se dissesse que sinto saudades da Amélia!”

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