Objeto?
“Supõe, erra, distorce. Mas é como um ar poluído: não se vive sem ela [Mídia].”(Deni Gould - professor de Jornalismo nos Estados Unidos)
Nathália Lima
Cultura é algo que aprendemos. Não nascemos pensando que a música gauchesca é melhor do que a baiana, ou que mulher de burca deve ser mais respeitada do que aquelas que saem de shortinho. No entanto, é possível perceber que a sociedade é moldada com base em um certo machismo. A quantidade de propagandas que usam a imagem feminina para vender n produtos é absurda. Cerveja, carro, futebol são as principais campanhas a favor da objetificação da mulher. E essa cultura não é apenas brasileira, é mundial.
Caso Geisy Arruda
Em 2011, o caso Geisy Arruda, que repercutiu em grande escala no Brasil e no mundo, é um exemplo de como a mulher é e pode ser desrespeitada pelo simples fato de vestir uma roupa extravagante. Parece que o povo acha que pode julgar alguém pela aparência. Geisy comenta que o que aconteceu com ela não a fez mudar de opinião em relação às vestimentas. “Continuo usando minhas roupas normalmente. A gente vive em um país democrático. Cada um pode e deve fazer e usar o que quiser.” A situação constrangedora ocorreu na Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban), local onde Geisy estudava no período noturno em 2011. Muitos dos alunos, vendo o vestido curto que a ex-estudante usava, começaram a gritar e desrespeitá-la em público. “Passou muita coisa pela minha cabeça. O que eu sofri naquele dia foi bullying”, complementa. O desrespeito foi descarado. Geisy compactua com a ideia de que a liberdade de expressão deve ser respeitada, tanto no falar, ser e pensar, quanto no vestir. “O problema é que o ser humano fica criticando. Se cada um cuidasse de sua própria vida, seria bem mais fácil conviver.”
Não foi a primeira nem será a última vez que coisas assim acontecem. Qual é o papel midiático em tudo isso? O que as propagandas que mostram mulheres esculturais e seminuas tem a ver com a falta de educação dos homens em relação às mulheres?
Ninguém Merece!
Michella Marys, uma das representantes do movimento “Eu não mereço ser estuprada/o” garante que o papel social implicado pela mídia é um dos fatores principais para que a falta de respeito contra a mulher ainda exista. “Nós do movimento queremos conscientizar toda a população de que somos todos iguais e temos os mesmo direitos também”, explica Michella. O ativismo “Eu não mereço ser estuprada/o” ganhou espaço na mídia e, principalmente, nas redes sociais depois que uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) teve resultados absurdos. De acordo com eles, 65% das pessoas utilizadas na pesquisa acreditavam que a culpa no estupro é da mulher, da maneira como se veste, do jeito que anda. Mas a pesquisa estava errada. Refeita, apontou que apenas 26% das pessoas concordavam que a mulher merece e tem parte na hora do estupro.
De onde vem essa ideia? Da sociedade, claro. Michella afirma que é possível mudar essa concepção. “É mais fácil ensinarmos as crianças de que todos temos os mesmos direitos e deveres. Garante que o movimento defendido por ela (e por grande parte das mulheres nas redes) tem como uma das maiores causas a igualdade de gêneros. “Nós somos iguais aos homens. Conseguimos desempenhar nossos papéis até melhor que eles às vezes, mas na hora de receber, só vem 70% do que eles ganham”, declara.
Essa igualdade generalizada pode ajudar a mudar a ideia de que homem pode pegar geral, mas mulher, não. O homem pode ganhar mais e ter mais cargos de direção, mas mulher, não. E não apenas isso. Michella comenta que muitas outras coisas melhorariam se as pessoas se conscientizassem. “Esse pensamento tem que ser implantado nas escolas, quando a criança está aprendendo a ler e escrever”, declara. As imagens de mulheres utilizadas na propaganda são resultado do que a sociedade pensa e aceita como publicidade para compra. Em contrapartida, a mesma sociedade também é responsável pelo que aceita (ou não). As pessoas querem comprar e as marcar querem vender. Ambos podres, acabam transformando a situação em um ciclo vicioso, em que todo mundo tem culpa de tudo e, ao mesmo tempo, ninguém tem culpa de nada.
Hipócritas somos todos
A hipocrisia é geral. Ao mesmo tempo que a mídia torna o papel feminino objetificado, o homem, quando vê uma mulher normal andando pela rua de short, faz gracinha e chama a menina de “safada”, quando não utiliza outros adjetivos piores. Não se pode afirmar que a culpa de tudo isso é apenas da mídia ou só da cultura. O fato é que um emaranhado disso tudo faz com que o papel feminino tenha outro viés. Não é de hoje que elas são criticadas por terem “ficado” com muitos meninos e que eles são os “garanhões” quando se relacionam com n meninas. Uma desigualdade terrível.
É também pura utopia pensar que o que é visto em vídeos de sites pode ser realizado por mulheres comuns, donas de casa, que cuidam dos filhos e tem muitos outros afazeres. E, pasmem, isso não faz delas menos mulheres. É bem o contrário. Não é isso que as define como mulher.
Em uma comunidade de Campinas, o marido que praticar qualquer ato de violência contra sua companheira ganha, como “recompensa”, greve de sexo, além de não poder frequentar qualquer bar da comunidade. É uma boa, não? Se é assim que entendem, por que não falar a “linguagem” deles mostrando que mulher não é coisa?