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O feminismo de TPM

 

Faltam publicações que ajudem as mulheres a quebrar o conceito de mulher-objeto. No entanto a revista TPM tem hasteado essa bandeira feminista.

 

Douglas Pessoa

 

Era para ser apenas mais uma bela manhã de primavera numa das maiores cidades do Canadá. Seria apenas um 3 de abril como os outros que marcam o fim do frio extremo naquele país nortista. No entanto a rotina da metrópole foi alterada pelos passos, gritos e palavras de ordem de um numeroso grupo de mulheres que desfilavam seminuas, algumas com os seios à mostra, levantando uma das maiores bandeiras do feminismo no século 21. Era o início da primeira SlutWalk, a Marcha das Vadias.

 

Aos olhares do senso comum seria apenas mais um protesto feminista. No entanto foi diferente. Todas as palavras de ordem gritadas nessa onda que tomou conta das principais cidades do mundo girou em torno de um conceito: a objetificação da mulher. Ou seja, a transformação da imagem do ser feminino em uma mercadoria.

 

No entanto, se isso fosse apenas uma mentalidade do “povão” poderia até não ser levado em conta. Mas aí é que surge um problema: a imagem objetificada da mulher ganha cada vez mais espaço na vida das pessoas por culpa do quarto poder. A mídia pode ser apontada hoje como um dos maiores objetificadores da mulher, se é que esse termo exista.

 

Aí você pode estar se perguntando. Como assim a mulher se torna objeto na mídia? Simples, basta parar para observar as propagandas de cerveja na qual se você bebe uma “latinha” vem uma mulher com curvas perfeitas para lhe acompanhar. O erro não estaria apenas aí se levássemos em conta de que, segundo a Universidade da Califórnia, 45% dos consumidores de bebida alcoólica são mulheres.

 

Mas nem tudo está perdido. Se existem publicações que ditam regras de vida para as mulheres existe uma em especial que quebra a imagem da mulher-objeto. Falo da revista TPM, a Trip para mulheres. Num primeiro olhar pode parecer que o periódico é apenas uma cópia descarada da revista masculina Trip, no entanto, apoiando-se no conceito de ser diferente das outras revistas femininas, a TPM consegue elaborar um discurso que estimula a mulher ser feliz do jeito que é.

 

A publicação da editora Trip tem como linha editorial mostrar um universo feminino totalmente alternativo das revistas femininas tradicionais. A revista tem uma tiragem relativamente pequena, cerca de 50 mil exemplares, só que faz mais sucesso na internet. No Facebook são mais de 100 mil curtidas. Seus discursos são bastante restritos ao público feminino e exploram temas polêmicos como sexualidade e estilos de vestuário alternativos. Além de publicar histórias de personagens masculinos famosos.

 

Portanto, por meio da leitura e análise da várias reportagens é possível perceber que a revista tem um conteúdo fortemente feminista. Como na reportagem “Vadia, eu?”. Matéria escrita por Nana Tucci e publicada no site da revista que classifica os homens que assediam mulheres na rua e jogam “cantadas” são classificados como cães famintos. A reportagem conta histórias de mulheres que foram vítimas de assédio sexual e as ajuda a dar boas respostas às cantadas.

 

TPM hoje pode ser considerada uma das publicações que mais apoiam o gênero feminino na luta contra a objetificação. Analisando suas páginas e navegando pelo site é possível perceber que o discurso promovido por ela tenta o tempo todo humanizar a mulher. A reportagem “Nojenta”, de Nina Lemos, por exemplo, quebra toda tentativa de construção da “mulher-objeto”. A linha fina já deixa isso bem claro: “Mulher perfeita não tem cheiro, nem pelos, hálito, chulé ou gosto. Nojo de nós mesmas?”. Ou seja, a matéria explora a objetificação da mulher que é feita pelas próprias mulheres.

 

Outro texto interessante que exemplifica isso é “Comida versus Culpa – Por que nossa relação com a comida é tão neurótica?”. A mulher que vive uma vida de extrema preocupação com o que come para manter o “corpo perfeito” é convidada a não se estressar com essa busca infinita. A edição trás uma entrevista com a cantora Preta Gil.

 

Diante dessa análise se pode perceber que nem tudo está perdido na mídia quando o assunto é objetificação da mulher. Apesar da mídia estar transformando o gênero em um mero objeto para ser consumido pelos “cães famintos”, TPM mostra outro caminho, aquele em que mulher pode ser mais feliz sendo simplesmente ela mesma. Ser feliz sendo simplesmente mulher.

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