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A questão dos anseios humanos

 

Daniela Fernandes

 

As teorias da conspiração ganharam visibilidade nos meios de comunicação no final do século XX. Mas a primeira teoria surgiu com o assassinato de Abraham Lincoln em 15 de abril de 1865. O então político norte-americano morreu por ter sido baleado com um tiro na cabeça por John Wilkes Booth. A princípio, uma fatalidade (mesmo) da vida. Porém, eventos históricos ou atuais como este ganham aspectos conspiracionistas. Por que isso ocorre? Há fundamento para tais abordagens ou tudo não passa de um fenômeno cultural sem embasamento?

 

O principal meio de disseminação dessas ideias é a mídia alternativa, em resumo, as redes sociais. Contudo, a mídia tradicional também é adepta a essas teorias e, sempre que possível, disponibiliza pautas baseadas em conspirações. Um exemplo disso foi o desdobramento na cobertura da morte de Eduardo Campos, presidenciável das eleições de 2014, que atribuiu sutilmente a culpabilidade da morte do ex-governador de Pernambuco à presidente Dilma Rousseff.

 

Vivemos em um período da história que há diversificadas visões de mundo. Qualquer um tem a liberdade para interpretá-lo ou se apegar a uma cosmovisão. Esse suposto controle da vida, ao invés de gerar ordem, produz confusão dada aos inúmeros modos de se perceber o universo. Sempre haverá algum pensamento para refutar determinada crença. Isso cria um cenário de incertezas que culmina na necessidade humana de se apegar a algo. Um dos motivos para existir tantas pessoas crentes em teorias da conspiração é este: a procura de conceitos que diminuam nossas angústias diárias.

 

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman explica que essas incertezas não passam de sintomas da nossa incapacidade de sanar dúvidas. Sendo assim, o ser humano acreditará naquilo que lhe trouxer mais segurança e estabilidade existencial. A mídia sabe disso e aproveita da melhor forma. Os meios de comunicação usam determinadas histórias que seduzem e provocam o anseio de esclarecer mistérios ou mesmo romper valores impostos na sociedade. É uma maneira midiática de solucionar a impotência humana perante o mundo.

 

Uma indagação comum, quando o assunto teorias da conspiração é mencionado, é referente ao perfil dos adeptos. Por incrível que pareça para alguns, grande parte dos apoiadores são inteligentes e têm alto grau de instrução. Entretanto há ainda aqueles que não possuem privilégios cognitivos ou que apenas seguem as ideias sem ao menos questioná-las. Apenas o fazem para replicar informações. Esses últimos são “presas” fáceis para os manipuladores da comunicação, estes que acabam ganhando “credibilidade” pelo aumento de seus simpatizantes. Eis, então, um exemplo do comportamento de determinadas mídias. Elas articulam dados e deseducam seus leitores, ouvintes ou telespectadores. Assim, o senso crítico é deixado de lado e a incapacidade de discernir é colocada em voga.

 

Deve-se ter atenção na apuração de dados informativos pela mídia. A veracidade das teorias da conspiração é altamente questionável, principalmente devido ao seu aspecto de verdade absoluta. Quando o ser humano aprender a lidar com a ausência de respostas definitivas, talvez, a partir de então, não precisará se envolver com especulações factuais. E poderá, enfim, viver em bases menos líquidas e susceptíveis à mudanças drásticas.

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