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Os turistas estão entre nós

 

Thamires Mattos

 

Os apelos aos enigmas de Nazca prevalecem corriqueiramente, afinal, são eles que trazem turistas ao local. O grande segredo do El País é não ter opinião quanto ao assunto, que, aparentemente, não tem resposta.

 

As perguntas filosóficas "de onde viemos?" e "para onde vamos?" são essenciais para a nossa existência. Mas, quando a curiosidade toma conta, não podemos deixar de perguntar: "Existe vida extraterrestre?". A resposta a cada uma dessas indagações é pessoal, e não existem leis que determinem o certo e o errado - por isso mesmo, o jornalismo deve, ao máximo, se isentar de opiniões subjetivas para relatar informações.

 

As linhas de Nazca, localizadas ao sul do Peru, foram descobertas em 1939. Estima-se que as figuras tenham cerca de 2000 anos. A tecnologia "precária" da época para fazer tais geóglifos levou muitos a constatarem que eles seriam obras de alienígenas. Verdade ou absurdo, muitos jornais veiculam notícias falsas. O El País não é um deles - embora venda a imagem "misteriosa" do local.

 

Uma mãozinha para o turismo

 

Na análise do El País para a América Latina, pouquíssimos são os resultados da pesquisa que se referem às Linhas de Nazca como um destino curioso e cheio de perguntas não respondidas. Porém, textos com veia turística afloram o mistério dos desenhos gigantes. Seu caderno "El Viajero" ("O Viajante", em português) publicou, desde 2010, apenas três matérias falando de Nazca, mas que já demonstram a importância do "aeroporto alienígena" para o turismo.

 

Na reportagem "Vôo para o mistério das linhas de Nazca" de março de 2010, o El País afirmou, sobre os geóglifos, que "Suas formas, dimensões e o fato de que, obviamente, a civilização Nazca não sabia voar, alimentam o mistério da origem desses gráficos. Como não podiam vê-los constituir um todo que os métodos utilizaram para construí-los? Existem teorias de todos os tipos, desde aqueles que dizem que são o trabalho de alienígenas até aquelas que acreditam que ele está em um sismógrafo gigante". Ser tendencioso para chamar turistas é aceitável, mas o El País não publicou mentiras. Apenas indagações conhecidas pelo público.

 

Já na reportagem "Destinos com mistério incluído" e na galeria de imagens "Os 10 lugares mais intrigantes do mundo", ambas publicadas em agosto de 2013, as Linhas de Nazca são descritas como "mistérios só vistos pelos pássaros" e "o tipo de sítio arqueológico que ninguém poderia inventar. (...) O trabalho de extraterrestres? Marcas de aeronautas pré-históricos? Um grande mapa astronômico? Não há explicação para esses geóglifos gigantes no sul do Peru".

 

Os apelos aos enigmas de Nazca são constantes, afinal, são eles que trazem turistas ao local. O grande segredo do El País é não ter opinião quanto ao assunto, que, aparentemente, não tem resposta. Sendo obra de humanos ou de aliens, a elaboração dos desenhos gigantes continuará envolta em hipóteses. O jornal espanhol, no entanto, não privilegia ninguém - as teorias continuarão sendo teorias. E, enquanto elas existirem, o turismo também existirá.

 

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