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Todos por um

 

Aline Lüdtke

 

“Você sabe o que um deputado estadual faz? Nem eu, mas pior que ‘tá’ não fica”. Pois é, essa é a situação de grande parte do povo brasileiro. A julgar pelos inúmeros casos de pessoas escolhendo candidatos com base nos santinhos jogados pelas ruas no último 5 de outubro, muita gente tem dificuldade em eleger seus representantes no Poder Legislativo. Mas, verdade seja dita, não que o processo seja assim tão simples, pois as eleições proporcionais envolvem um tempo sem fim de cálculos e proporções até que definam quem vai ocupar as cadeiras nas Câmaras e Assembleias. Em todo caso, o que faz-se necessário, realmente, é o maior interesse por parte da população nas questões políticas, o que levaria a uma participação mais ativa e consciente.

 

A responsabilidade disso, em parte, deve-se ao próprio interesse de quem está no poder apenas pela ganância; quanto maior a ignorância do povo, mais fácil sua manipulação. Assim, a ideia seria criar uma boa imagem em cima dos candidatos que conquistassem os eleitores pela simpatia e carisma, dando pouca profundidade às propostas políticas. Mesmo ao apresentar planos de governo, estas seriam baseadas em ações pontuais de benefício imediato à população, sem grandes iniciativas significativas e duradouras. Ao votar num candidato específico, esses são critérios que muitos levam em conta, quando escolhem um deputado – em meio à vastidão de opções – por “gostarem” dele. Um exemplo inegável disso é o número de votos conquistados pelo comediante Tiririca nas eleições passadas: o humorista passou a marca de 1 milhão.

 

Um partido político é um grupo organizado de pessoas que acreditam em uma determinada forma de administrar o país. Sendo assim, cada partido defende uma série de propostas baseadas numa mesma ideologia. No Brasil, por haver tantos partidos, a escolha de um que se adeque à própria orientação política pode parecer confusa, de início. Mas é justamente essa necessidade de encontrar um grupo com o qual se identificar que torna o processo eleitoral um crescimento como cidadão. Envolve esforço comparar propostas, conhecer contextos históricos e econômicos do país, e então buscar as melhores soluções que promovam o desenvolvimento da nação. Dentro de um mesmo partido, essas soluções teriam fundamento e valores equivalentes. Portanto, votar na legenda, em vez de em um candidato específico, ajuda a garantir mais cadeiras para o partido.

 

Tomando como exemplo o “boom” de votos alcançados pelo comediante Tiririca, e também pelo candidato a deputado estadual mais votado no estado de São Paulo, Celso Russomanno, percebe-se a tendência da maioria dos partidos apostarem na campanha de candidatos mais populares, transformando-os “puxa-votos” do partido. Dessa maneira, a equipe de candidatos a concorrer pelo partido é composta por “pseudo-candidatos”, chamados de última hora apenas para ter mais chances de eleger o partido. Esse é o resultado do comportamento observado no início do texto, quando políticos são eleitos por sua popularidade, em vez de sua competência. Por outro lado, quando o cidadão é levado a se informar mais e investir em um partido como um todo, essa atitude leva à mudança nas campanhas do próprio partido. Em unir-se como organização e buscar propostas mais sólidas e aceitar, como membros, aqueles que tenham condição de bem representar essas propostas. Se funcionasse decentemente, a maturidade política seria atingida não somente pelos cidadãos, mas pelos próprios políticos.

 

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