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O Estado de Conveniência

 

Juliana Dorneles

 

A imparcialidade é utópica. Não podemos negar que todos nós temos tendência de concordar com algum lado. Um exemplo claro e atual é a nossa preferência política. Por motivos que variam desde o “eu fui com a cara dele” até o de conveniências gerais como propostas sem lógica, todos têm um candidato de sua preferência. Deveria ser diferente para com os veículos de comunicação. Mas isso, infelizmente, não acontece.

 

Há uma inversão de valores. O jornal deveria fazê-lo com honestidade e imparcialidade. O leitor (e eleitor), que absorve a informação “supostamente legítima”, estaria apto a tirar suas próprias conclusões, levantar a sua bandeira e votar consciente. Mas não! Os jornais tomam a posição dos candidatos. Apoiam um partido e, ao invés de informar, manipulam. E agora o cidadão, que já está cansado dessa história de eleição, já não sabe mais em quem acreditar. “Chuta o balde”, vota em qualquer um, vota nulo ou em branco (sem, às vezes, nem mesmo saber a diferença entres os dois, diga-se de passagem).

 

Essa desordem é claramente retratada quando analisamos criticamente um jornal. No caso da cobertura das eleições do jornal O Estado de S. Paulo, notamos a inconstância das predileções. Mas por que há essa oscilação?

 

Ao lado do conveniente

 

Em algumas reportagens parecia que o apoio estava com a Marina Silva, em outras com Aécio Neves. O Estadão joga do lado de quem ganha. Por exemplo, quando o Brasil inteiro estava comovido pela a morte do ex-presidenciável Eduardo Campos e Marina assumiu a candidatura, o Estadão deu o maior apoio a nova candidata. Só no dia 23 de agosto, duas reportagens positivas sobre Marina foram publicadas. Porém, quando ela começou a descer nas pesquisas, a glória foi passada para o Aécio. A reportagem intitulada “Uma semana decisiva”, publicada no dia 21 de setembro, deu todo o crédito a ele e desvalorizou a oposição.

 

E Dilma? Onde fica nesta história? Na última reportagem citada no parágrafo anterior, ela foi lembrada apenas por estar com o maior índice de rejeição. Em outras reportagens ela aparece como uma vilã que ataca os adversários (principalmente a “coitadinha” da Marina). Na matéria intitulada “Para Dilma, os adversários podem ‘flexibilizar’ direitos trabalhistas”, publicada no dia 20 de setembro, encontram-se frases capciosas como: “em uma crítica direta aos adversários...”, “a candidata à reeleição (...) insinuou que...”. E para terminar a série de exemplos, a reportagem continua contando que, quando os jornalistas tentavam entrevista-la, ela os interrompia com suas propagandas eleitorais, não dando brechas para perguntas ou críticas. É escancarado a aversão à Dilma. Me pergunto então: há preferência política a um candidato? É saudável essa forte aversão a outro presente nos textos?

 

Informação vs. opinião

 

Outro erro comum encontrado é a opinião, sem embasamento, infiltrada no meio das reportagens. Na matéria “Uma semana decisiva”, que já foi mencionada acima, há trechos, como este, que explicitam isso: “Além dos péssimos resultados, o governo do PT exibe cada vez menos transparência, com dados inconfiáveis, inconstância e manipulação (...)”. Sem estar baseado em nada, o autor chega a essas conclusões.

 

Desistir da imparcialidade e prestar apoio a algum lado não é mais novidade no jornalismo do Brasil. O esforço em camuflar a linha política do jornal também está em pauta de principais preocupações dos veículos. A moda agora é escancarar a opinião. Será este o jornalismo que queremos?

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