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Corda bamba

 

Durante o primeiro turno, o desafio da pluralidade de opiniões foi batido. Porém, a dicotomia imposta pelo segundo round das eleições está assoprando e, aos poucos, a Folha cai de cima do muro

 

Emanoel Junior

 

Esse artigo demorou a sair. Talvez tenha sido o mais difícil de fazer. Acostumado a analisar posições da Folha em outros âmbitos, li e reli diversas reportagens encontrando um ponto de apoio para a análise.

 

Com o tempo de entrega batendo à porta, pensei: o que dizer desse jornal que mal conheço e já analiso “pakas”?  Comecei a reparar nas formas do site, na configuração gráfica das notícias e, aos poucos, um padrão de comportamento se revelava. A perspicácia sinceramente impressiona. A olho nu, a Folha se passa por apolítica, vendendo a imagem de imparcial e informativa. Em sua política editorial, a pluralidade de opiniões e visões é um mantra. E ela aparece em seus blogs. De líderes de movimentos sociais a doutores, de filósofos de esquerda a filósofos de direita.

 

No momento eleitoral, o risco de tomar posições é grande e a Folha parece ter tomado cuidado com isso. Entrevistou candidatos, tanto gigantes, quanto “nanicos”. Denunciou supostos esquemas de corrupção em diversos partidos. Porém, a facilidade de criar certa imparcialidade é associada ao fato de as eleições estarem no primeiro turno. O domingo de votação chega, o frio na barriga chega junto e “bazinga!”: o processo não acaba ali. Dilma e Aécio. PT e PSDB. Esquerda e direita. Progressista e conservador. E agora, José, para qual lado do muro a Folha vai cair?

 

Se quiser manter a postura de imparcialidade, os cuidados têm de ser redobrados. Existe também a opção de seguir a tendência de Carta Capital e Veja, que levantaram suas bandeiras e declararam seus apoios. Mas por que jogar todo aquele esforço de anos passados e do primeiro turno no lixo? Realmente, não faz sentido. Parece que a Folha de S. Paulo gosta de correr riscos e vai encarar o desafio de imparcialidade.

 

Os blogs e colunas, no site e no jornal respectivamente, são parte importante desse desafio. Colocar opiniões diversas todos os dias complementa o conteúdo informativo. Traz ao leitor a consciência de que os acontecimentos podem ser analisados de diversos prismas e cabe a nós nos posicionarmos. Retira do jornal o jargão de “formador de opinião”, que passa a compor parte da opinião do leitor.

 

O segundo turno está aí e ser isento está cada vez mais difícil. Para vencer o desafio, não basta só ficar em cima do muro. Daqui para frente, o jornal vai ter que caminhar na corda bamba. E recheado de pessimismo jornalístico, afirmo: a Folha vai cair. Só nos resta saber para qual lado.

 

 

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