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A base política midiática

 

As mídias convencional e alternativa têm poder sobre o resultado das eleições. Essas ferramentas devem ser utilizadas da melhor maneira possível a fim de que cada cidadão se eduque e tome decisões plausíveis

 

Daniela Fernandes

 

O Brasil é descrito como uma república federal presidencialista. O termo federal é utilizado devido à composição brasileira dotada de estados autônomos no que se refere à política. Já o caráter republico-presidencialista expõe o fato do Presidente da República exercer função de chefe de estado e de governo. Além disso, a República Federativa do Brasil desfruta de uma democracia representativa, ou seja, o povo atua soberanamente por intermédio de eleições, as quais elegem líderes tanto do poder executivo quanto do poder legislativo. 

 

Após se informar sobre essas peculiaridades do país, é possível acreditar que o Brasil possua elevado índice de democracia. Segundo a revista britânica The Economist, isso é comprovado através do desempenho elevado nos quesitos pluralismo do processo eleitoral brasileiro e liberdades civis. Porém, quando o assunto é cultura e participação política, a performance deixa a desejar. Sem contar com os constantes casos de corrupção advindos dos políticos. Assim, com essa descrição do cenário vivido pelos brasileiros, surge o tema da reforma política. Algo considerado necessário pela população e, ao mesmo tempo, abrangente.

 

Durante a semana da pátria desse ano foi realizado o “Plebiscito Constituinte”. A pergunta era: “Você é a favor de uma constituinte exclusiva e soberana sobre o sistema político?” Entre os participantes da votação, 97% confirmaram esse anseio. Essa porcentagem representa cerca de 7,4 milhões de pessoas. Algo expressivo e que pode ser refletido nas urnas. 

 

Muitos juristas defendem as mudanças na legislação. É o caso do Dr. Paulo Hamilton Siqueira Junior, diretor-executivo da Escola Judiciária Eleitoral Paulista (EJE). Ele afirma que “o principal ponto da reforma política é o fortalecimento dos partidos políticos. Não há democracia sem isso”. Explica ainda que há um princípio constitucional apontando para a livre criação dos partidos políticos. O diretor-executivo da EJE não vê problema nessa criação. Contudo, exige bom desempenho das legendas. “Para fortalecer é preciso criar uma válvula de desempenho, uma espécie de cláusula de barreira”, completa.

 

Há deficiência no senso cívico e na cultura de politização do brasileiro em geral. Na maior parte das vezes, as justificativas de que no Brasil existe um desinteresse quando o assunto é política está relacionada aos quase trinta partidos brasileiros e, também, às propagandas eleitorais que não esclarecem, pelo contrário, deseducam e confundem. De acordo com Mariana Farinha, estudante que foi mesária pela primeira vez no primeiro turno das eleições deste ano, essa confusão é refletida nas urnas eletrônicas. “As pessoas não votam pensando e entendendo as propostas do partido. E sim por consideração aos amigos, parentes. Às vezes usam como base de voto os papéis recebidos minutos antes de entrar na seção eleitoral. Ouvi muita coisa do tipo: meu voto não irá mudar nada. Vou votar, pois sou obrigada(o) e não pela possibilidade de mudança nacional”, conta a estudante.

 

Somente as legendas que possuem dinheiro suficiente para pagar alguns minutos em rede nacional conseguem expor com “clareza” suas propostas. A consequência, então, é a dúvida e a desconfiança dos cidadãos nos seus representantes. Desse modo, surge uma perspectiva de atualização do sistema político-eleitoral.

 

Cobertura decisiva

 

A cobertura midiática das eleições gera reações na sociedade. Tal influência supera a produção das notícias. Afinal, os meios de comunicação encomendam as pesquisas e viabilizam os debates. 

 

Conciliar a liberdade de imprensa e a do eleitor é tarefa complexa. A mídia, de fato, exerce seu papel democrático e, por conseguinte, fica evidente que a democracia consagra direitos contraditórios. Siqueira Júnior acredita que a mídia tem papel de interferência absoluta no processo eleitoral. E que isso é histórico, haja vista a eleição do ex-presidente Fernando Collor após o favorecimento do então candidato durante o debate da Globo em 1989. “A justiça eleitoral deve fiscalizar e averiguar se houve abuso”, diz o jurista.

 

Visando da mesma maneira a fiscalização, um grupo de pesquisadores decidiu monitorar o comportamento das eleições. O “Manchetômetro” é um website de acompanhamento da cobertura midiática das eleições 2014. Produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP), sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O objetivo do estudo é analisar a cobertura com destaque para o pleito presidencial. Os resultados comprovam que os jornais Folha de São Paulo, O Globo, O Estado de São Paulo e o Jornal Nacional agem diretamente na opinião pública. 

 

“A mídia é muito importante e fundamental no modelo democrático vigente. A imprensa tem o papel de fiscalizar e denunciar. Penso que a mídia brasileira é muito boa nisso”, diz Geraldo Agosti Filho, juiz efetivo do TRE-SP. Mais do que quaisquer outras, as mídias sociais - ano após ano - têm sido elementos cruciais nos pleitos. Não existe substituição de uma mídia pela outra, há sim uma complementação de informações. “As pessoas estão inseridas em um ambiente de comunicação, onde este local está cada vez mais convergente. A grande característica da internet é a interatividade. E há um controle dessa interatividade através do interesse político”, disse a cientista política Alessandra Aldé em entrevista ao programa Observatório da Imprensa no dia 12/08/14.

 

A mídia social e alternativa tem poder sobre o resultado das eleições porque a mídia convencional (televisiva, impressa e radiofônica) não está atendendo à demanda total. Nessa linha de pensamento pode-se resgatar a questão da regularização da comunicação, ponto essencial para que se atinja a plenitude da democracia e fator contribuinte para a transparência das eleições.

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