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Comercializar é facil

 

Daniela Fernandes

 

O contexto vivido na atualidade nos remete a um mundo extremamente consumista. As pessoas tornam tudo o que podem em material rentável e de comércio. O que parece importar agora é o lucro e não a essência da arte. Assim, a ideia de valor se deturpou de caráter sentimental a caráter material na cultura. Entretanto, por mais que o aspecto capitalista fale alto, o significado original das pinturas, esculturas, entre outras artes, não se perdeu.

 
Zygmunt Bauman em seu livro “44 cartas ao mundo moderno” afirma que a cultura se torna um “armazém de produtos para consumo, uma espécie de seção da loja de departamentos (…) na qual se transformou o mundo habitado por consumidores”. Para Bauman, os interesses comerciais se sobrepõem aos valores estéticos e artísticos. Sendo assim, a comercialização da arte aponta para uma cultura que só é interessante se, e somente se, gerar dinheiro e cativar um público elitizado.

 

Sem contradizer Bauman, Walter Benjamin, no texto “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, corrobora o fato das artes participarem do cenário mercadológico, mas o filósofo também acrescenta que a aura artística não pode ser destruída e/ou comercializada. Ou seja, ao vender cópias “fiéis” e reproduções digitalizadas, por exemplo, a autenticidade e o caráter único da obra não se aglutinam às reproduções. Benjamin define aura como “uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante por mais perto que ela esteja”.

 
A exploração da arte tem assumido lugar de extrema importância no mundo dos negócios, principalmente após tantas crises econômicas, as quais obrigaram os investidores e os economistas a desenvolverem sua criatividade a fim de aumentar sua rentabilidade. Contudo comprar ou ver cópias de obras de Monet, Rodin, Cézanne e Picasso não tem o mesmo sentido do que comprar ou ver a arte original, haja vista os colecionadores que não se contentam com réplicas. A unicidade de cada obra é o que permanece em meio a tanta competição comercial.
 

Um bom modelo para exemplificar esse comércio são os quadros. Primeiro, prepara-se a tela real que é usada por todos os artistas. Segundo, compra-se a imagem original da pintura em alta resolução em um “banco de imagens” internacional. E por fim, juntam-se conhecimento artístico e equipamentos de última geração. O resultado são as supostas réplicas perfeitas, exatamente iguais às pinturas originais e prontas para serem vendidas.


Essa é uma maneira de suprir a necessidade de alguém que deseja possuir obras de arte. E, além de tudo, é um jeito de atender aos interesses do capital financeiro. Pode-se ter um grande acervo de imitações personalizadas para combinar com cada indivíduo, porém o verdadeiro valor da arte é possuído somente pela obra original. Comercializar é fácil. Difícil é oferecer ao comprador a réplica da aura intrínseca a cada arte.

 

 

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