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Potencializar ou alienar?

 

Comunicar  é a contínua necessidade humana. Nos comunicamos por palavras, gestos, atitudes, olhares, ausências, pelo texto e imagem, pelo som,  enfim, as possibilidades de comunicarmos algo são infinitas. O que é a arte senão a mais sublime forma de comunicação? Não pretende ser objetiva, tampouco retratar fielmente realidades, sua única pretensão é falar. Fazer sentir, refletir, fazer mudar. Seu maior poder, creio, está em sua capacidade de falar ontem, hoje, amanhã. De falar sobre as mesmas coisas de diferentes formas em cada época e contexto. A arte para ser entendida requer um diálogo entre autor, espectador, tempo, a história.

 

Ao mesmo tempo,  é campo vasto para experimentações. Erudito e popular se imbricam desde tempos imemoriais. Conversam para potencializar-se, lutam para transmitir as mais obscuras emoções, as mais complexas situações .  E esta característica de misturar-se para crescer é outro ponto que faz da arte, talvez, a mais poderosa de todas as linguagens.

 

Me preocupo.

 

Quando o acesso a arte deixa de ser educativo para tornar-se alienante, para tornar-se símbolo de status e não de conhecimento, percebo que cultura (o aculturar-se) fugiu aos parâmetros mais básicos de seu conceito. Sim, é preciso promover acessibilidade, no entanto, neste exercício encontra-se o perigo da massificação  redutora. Um derramar de fontes e conhecimentos sobre a massa que não procura esclarecer e ampliar horizontes, serve apenas para distanciar e minimizar a reflexão.

 

Quando a arte não politiza, mas panfletiza; quando a arte não amplia, mas agencia; quando a arte não liberta, mas confina; quando ela não produz abstração, mas alienação; nestes momentos, bem, me preocupo. Porque quando isto acontece, arte não mais comunica. Ela desinforma. Perde seu valor (e talvez, neste sentido, sim, sua aura), sua função, sua riqueza, a vastidão de seu ferramental.

 

Em tempos de reprodutibilidade técnica, tempos de tecnologia, há quem acredite que estamos, pioneiramente, entrando em uma nova renascença. Tal qual Michelangelo e Da Vinci estamos prontos para gerenciar todo tipo de experimentação e quebrar todo tipo de tabus que ainda restam sobre este universo.  Me preocupo ainda mais. Saberemos fazer isto de forma a conseguir potencializar e não reduzir? Para educar e não alienar? Porque se não for assim, de que serviria comunicar por arte? Arte que é arte ".. diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível", Leonardo da Vinci.

 

 

Andréia Moura

Editora-chefe do Canal da Imprensa

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