top of page

Veja quer ser Pop

 

Emanoel Junior

 

Você já parou para analisar a Veja? Não sabe o que está perdendo! Quando se para e lê esta polêmica revista, nos damos conta de quão simples é sua linha editorial. Sabe aquele amigo que é o mais rico da turma e está sempre tentando se enturmar com a galera se esforçando para ter assuntos em comum? A Veja é assim. Em sua editoria de cultura, apelidada “Artes e Espetáculos”, os articulistas se esforçam para comentar obras pouco conhecidas nas rodinhas de milionários. Falar de filmes que nascem de iniciativas particulares e retratam a periferia de São Paulo, como Na Quebrada, de Fernando Grostein, irmão de Luciano Huck, é uma grande tentativa de mesclar a “quebrada” com o condomínio.

 

Dotada de um vastorepertório, a revista tenta dar o furo e se posicionar a respeito das tendências mundiais. Agem como se todos os críticos de cultura fossem desatualizados e a Veja super adiantada. Fala bem do cinema argentino, que vêm ganhando espaço na sétima arte. Comenta livros estilo “lado B” da literatura europeia, como uma obra proibida na Alemanha por comentar o holocausto com sarcasmo. Suas críticas tentam trazer ao comum o que mais tem de subversivo no mundo da cultura. Afinal, sabemos que a alta classe consumidora da revista tem gostos exóticos.

 

 Em suas sessões semanais, Veja construiu uma personalidade interessante, que se diferencia do restante da revista. Depois de conversar com um vendedor de assinaturas do periódico, descobri que ela não é uma revista jornalística (por mais que tente parecer) e sim uma revista de variedades. E é isso que a sessão “Artes e Espetáculos” representa. Da exposição mais pomposa ao novo filme de Robert Downey Jr, a editoria é a única parte da revista que tenta dialogar com diferentes classes sociais. Faz texto de críticas ao caríssimo Cirquedi Soleil até indicações de programações gratuitas.

 

Como uma extensão da VejaSP, versão paulistana da revista, as últimas dez páginas da Veja se tornam um guia cultural da elite brasileira, dando opções para quem quer se enturmar “manter a classe”. Para a maioria da população, que não tem renda nem para assinar uma revista deste “porte” (econômico, diga-se de passagem), resta o resto. Sem acesso à maior parte do conteúdo produzido no país e no exterior, a parcela que não consome “caviar” continua a pensar que consumir cultura é só assistir a um filme periodicamente e ler a coluna do fofoqueiro de alguma revista.

 

Para quem não tem renda mínima para o clube dos iates, Veja se tornou uma tentativa frustrada de ser popular. Tenta, mas não reconhece o assunto da roda e continua sendo de elite. Desculpa Veja, mas o Papa é pop, você não.

bottom of page