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Rap como ferramenta social

 

Nathália Lima

 

O Rap faz parte do movimento de Contracultura. Proveniente de realidades contraditórias, problemáticas, utiliza a música para trazer à sociedade assuntos que passam despercebidos. Mas não mostra apenas o problema, faz com que seu público entenda e mude o pensamento a respeito de muitos assuntos (políticos, sociais etc) através da aplicabilidade, da história cantada. O Canal conversou com o rapper Fábio Danillo. Conhecido como FD3 é natural de Artur Nogueira – SP e começou a mostrar sua opinião por meio da música cedo, com apenas nove anos de idade. Hoje, com 19 anos, já é ganhador de três prêmios nacionais por causa do Rap. 

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Canal da Imprensa: O que é o Rap (como movimento), quando e onde surgiu, quais são suas influências?

 

FD3: O Rap é um dos cinco pilares básicos do movimento Hip-Hop, estabelecidos por Afrika Bambaataa que foi um dos precursores do movimento no South Bronx em Nova Iorque, na década de 70. Além do Rap, existem o DJing, o Breakdancing, o Graffiti. Até mesmo as gírias e o modo de se vestir se tornaram características. Praticado pelo “MC” (sigla para “Mestre de Cerimônia”) ou mais atualmente denominado “Rapper”, o Rap surgiu nos bailes de comunidades africanas, latinas e afro-americanas nos Estados Unidos. Depois tomou proporções mundiais. Desde o início, relata a realidade das comunidades carentes, abordando temas como a violência, pobreza, criminalidade e, em alguns casos, também sobre banalidades como sexo e consumo de drogas. É importante ressaltar que o Rap é principalmente uma ferramenta de comunicação dentro e fora das comunidades e os temas que aborda registram seu perfil de movimento contracultural por indicar problemas sociais e econômicos.

 

C.I: Qual o papel social do Rapper?

 

FD3: O Rapper tem o poder de disseminar opiniões e incentivar o raciocínio, mostrando seu posicionamento ou mesmo pondo em pauta assuntos pertinentes a sociedade, introduzindo o diálogo sobre problemas sociais, econômicos e políticos.

 

C.I: Quais são as principais características e propostas do rap no Brasil?

 

FD3: Por ser grande a quantidade de MC’s e grupos de Rap que temos no país, podemos contar com diversas perspectivas, opiniões e propostas que dependem da identidade e da visão de mundo de cada MC, mas que geralmente se baseiam em problemas sociais que são abordados principalmente no cenário independente. Pela diversidade de opiniões no Rap, algumas vezes também podem surgir conflitos ideológicos entre os próprios Rappers. Uma das características do Rap é a versatilidade do gênero, pois se utiliza de diversos recursos musicais de outros gêneros na elaboração de suas instrumentais (ou bases), que podem ser construídas com “samples”, ou até mesmo apresentadas com bandas. Essas combinações permitem aos MC’s trabalharem nas instrumentais de forma que o sentimento que elas passam, possam ser compatíveis com o sentimento que a poesia deve causar. No Brasil, isso se torna mais claro, tendo em vista que o nosso povo é miscigenado, formado por culturas diferentes que contribuem para a diversificação dos recursos musicais.

 

C.I: O rap é um modificador de opiniões. Pode tirar pessoas de situações críticas dentro de lares destruídos. O que você pretende fazer, como rapper de Artur Nogueira – São Paulo, para que mais pessoas sejam ajudadas através deste movimento de contracultura?

 

FD3: Não acredito que o Rap seja necessariamente um “modificador de opiniões”, mas sim uma ferramenta de comunicação, de transmissão de ideias e valores como: a noção de consciência social, tanto por parte do setor privado, quanto do setor público, também noções de cidadania e coletividade, que são elementos substanciais para iniciativas como o combate à pobreza, reivindicação dos direitos do cidadão, combate ao racismo, etc. Além dos ideais inerentes ao movimento Hip-Hop, minha contribuição como MC seria na quebra de paradigmas disseminados por emissoras de televisão e que muitas vezes acabam sendo utilizados para manipulação da opinião pública, ou até mesmo o senso comum intrínseco a sociedade que acaba por reprimir aqueles que não compartilham do mesmo tipo de pensamento. Portanto, trabalho na abordagem de questões que estimulam o pensamento crítico do ouvinte, pondo em pauta determinados assuntos que incentivam a formação de uma opinião livre, consciente e que respeite os direitos humanos.

 

C.I: Letras de rap são conhecidas por ter fundo moral e de manifestação, mas muitas pessoas ainda acreditam que é “música da ralé” ou algo que “não pode ser chamado de cultural”. O que fazer para que as pessoas entendam as reais vertentes do rap, o respeitem e também utilizem dele como forma de manifestação contra diversos assuntos pertinentes?

 

FD3: O Rap é um movimento contracultural, pois é originário de uma realidade contracultural. Vem da pobreza, da violência, da exclusão social e expõe (até de maneira jornalística) essa realidade. Por isso é gerado um preconceito da mesma forma que é gerado o preconceito contra o favelado, contra o morador de rua, que fazem parte de uma situação contraposta à vida saudável e segura nos condomínios, ao “lifestyle” das famílias ricas das novelas das oito. O primeiro passo para o fim do preconceito é reconhecer a autonomia do movimento, que, além de reflexo, é uma ferramenta de correção dessa realidade, uma dose de lucidez, notável pela sua eficácia e sendo de iniciativa das próprias pessoas que sobrevivem à esse contexto, o que é de fato respeitável.

 

C.I: Quando você começou a cantar e rimar? Por que FD3?

 

FD3: Comecei a compor aos 9 anos de idade e passei a me apresentar aproximadamente aos 14 anos depois que gravei um CD de demonstração com 5 músicas em 2009, com o total incentivo apoio financeiro da minha mãe, e o aparato musical proporcionado pelo produtor da JR Studios Juninho Sarpa, o que me rendeu material suficiente para expor meu trabalho e consolidar minha identidade na música. O nome FD3 surgiu de um grande desejo de registrar de alguma forma o amor que tenho pela minha família. Um pouco da nossa identidade. Então resolvi usar sigla FD3, pois tenho dois irmãos e as iniciais de nossos nomes são todas F e D. Por ser o irmão caçula me autodenominei “FD3”.

 

C.I: O que o seu trabalho já lhe proporcionou de bom durante esse tempo que você está envolvido com ele (músicas, parcerias, prêmios)?

 

FD3: O Rap me deu voz. Através dele, pude ter maior participação social, amadurecer como pessoa e aprimorar a visão crítica das coisas. Também tive e estou tendo oportunidade de ser reconhecido pelo meu trabalho. Fui, por três anos consecutivos, premiado no Festival de Hip-Hop de Artur Nogueira, evento aberto à MC’s e grupos de Rap de todo país que eram avaliados segundo suas composições próprias em aspectos de musicalidade, letra e interpretação, concorrendo ao troféu, prêmio em dinheiro e divulgação em Jornais da região. Em 2010, aos 15 anos, participei pela primeira vez do evento e fui o primeiro MC nogueirense a receber o 1º lugar pela apresentação da música “Brasil”. Em 2014 recebi o prêmio do Jornal Nogueirense “Nogueirenses do Ano”, por representar o Rap na cidade de Artur Nogueira. Também recebi convites de participação musical em CD’s das bandas de Rock Finder e Sopro Vital. Além dessas experiências, o Rap e a música em geral me proporcionaram o simples prazer de fazer o que gosto e tenho facilidade de fazer, oportunidade de interagir e tocar com pessoas de diferentes lugares e diferentes referências.

 

C.I: Quais foram os principais motivos que te levaram a ser rapper?

 

FD3: Acredito que o principal motivo seria a identificação com o movimento Hip-Hop e a admiração por fazer música. Assim como outras pessoas descobrem talento pra determinadas profissões ou atividades, eu consegui me descobrir na música e hoje sou feliz por utilizar esse talento para por em pratica meus ideais.

    
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