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O fim já começou

 

Não sou nenhuma grande fã de filmes pós-apocalípticos. Vez por outra, no entanto, gasto tempo assistindo produções cinematográficas dedicadas ao tema. Creio que devido a cosmovisão que alimento, nada daquilo me pareceu muito real, nunca. Não desacredito das consequências para as quais os caminhos que o homem tem trilhado (principalmente no que se refere ao meio ambiente) levará a humanidade. Apenas, o retrato de tais situações feitas na grande tela me parecia muito fantasioso, utópico até.

 

Nos últimos meses, a crise hídrica brasileira me leva a novos patamares reflexivos. O Brasil é privilegiado, no que concerne ao acesso à fontes de água doce. Controlamos boa parte destes recursos mundiais. Este conhecimento de aparente abundância produz uma cultura, um comportamento de desperdício. Ao passo que também propicia um descaso com investimentos em programas de uso e proteção aos mananciais.  Em síntese, até então (povo e governo) estavam "se lixando" para a "sede do futuro".

 

Afinal, problemas de abastecimento (no Brasil), se restrigiam, basicamente, ao nordeste do país em que, a irregularidade das condições climáticas provocava desequilíbrio na disponibilidade dos recursos hídricos. De repente, ("não mais que de repente"), o Sudeste se vê às voltas com a quantidade de água disponível para seu uso (ou desperdício). Gente caminhando quilômetros para conseguir um balde de água, banhos controlados, descarga com a água da louça suja, poços clandestinos cavados aqui e acolá, contas sendo cobradas sem que o abastecimento aconteça, pior, contas milionárias chegando a nossas portas,  a Cantareira parecendo o deserto do Saara...

 

O poder público ostentando cara de besta e mais, a mídia sem saber o que fazer quanto ao tema. Sensacionaliza, esconde, critica, adula, baratinando entre diversos senhores...

 

Tudo isto me leva a uma simples constatação: o apocalipse, minha gente, já chegou. Se tudo isto não te parece cenário pós-apocalíptico, então, sinceramente não há o que dizer, debater.

 

Agora, se você, como eu, percebe que uma realidade "pós-apocalíptica" não deve ser vista de forma tão caricaturada tal qual a sétima arte gosta de apresentá-la, se você entende que viver em um país como o nosso e sofrer por falta de agua é, completamente, pós-apocalíptico, bem vindo a esta edição do Canal da Imprensa.

 

Nosso trabalho desta quinzena analisa o tema sob a ótica da mídia. Quiçá consigamos responder algumas perguntas importantes.

 

De quem é a culpa? Há culpados afinal?

 

E de todas as perguntas que me atormentam, a mais inquietante de todas: haverá solução para o caos que se avizinha? Nossa destruição está fadada?

 

 

Andréia Moura

Editora-chefe do Canal da Imprensa

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