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Crise hídrica à Folha de São Paulo

 

Daniela Fernandes

 

A cobertura midiática da crise hídrica pela Folha de São Paulo dividiu-se em duas parte, são elas: período eleitoral e período pós-eleitoral. Este está sendo retratado de maneira incessante, haja vista que o assunto recebeu destaque na editoria cotidiano com direito a raio-x da crise da água. Do contrário, aquele quase não revelou os fatos; preocupou-se apenas em encobrir a realidade que certamente prejudicaria um dos candidatos ao governo do estado de São Paulo.

 

Houve, assim, um racionamento de água oculto e um racionamento de informações explícito ao longo da campanha eleitoral do ano de 2014. O Palácio dos Bandeirantes foi blindado pela Folha à fim de que o senso crítico não tomasse conta da população. Artigos como o do presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Jerson Kelman, tinham o papel de convencer o leitor de que não havia crise e, sim, apenas uma possibilidade remota de racionamento. “(...) O termo "racionamento" é usado, em geral, quando se força a diminuição coletiva do consumo por meio da total interrupção do fornecimento por algumas horas do dia ou quando se impõem quotas individuais de consumo. Não é o que a Sabesp tem feito, mas poderá ser forçada a fazê-lo, se continuar a não chover nos lugares certos e nas quantidades necessárias”, afirma Kelman.

 

Findado o período eleitoral e eleito o candidato da Folha - Geraldo Alckmim -, o público aceitou desculpas como o vazamento do encanamento do sistema de abastecimento. Porém Alckmim assumiu o governo de São Paulo em 2001, ou seja, teve tempo para começar a “arrumar a casa”. Mas, ao contrário, não explicou o motivo da ausência da reparação dos canos e seguiu negligenciando a situação. Algo é certo, tempo não lhe faltou. O que faltou, na realidade, foi boa vontade. Se pensarmos no jogo político, o governador agiu da forma coerente. Caso houvesse começado os projetos para resolver de vez os problemas nas tubulações, ele correria o risco de não inaugurar as obras, pois há cerca de 64 mil quilômetros de tubos subterrâneos na região metropolitana paulista, o equivalente a uma volta e meia em torno da Terra. Sendo assim, o empreendimento duraria anos. Finalmente, o que a Folha fez em sua cobertura foi apostar no jogo de Alckmin e direcionar sua linha editorial a esse favor.

 

Saindo um pouco da análise da dualidade da cobertura eleitoral e pós- eleitoral - entretanto com a mesma importância - de forma contraditória, a mesma Folha que abafou a crise atual, previu e denunciou através de uma reportagem em 2003 (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1210200301.htm) o provável risco da falta de água. Esta é a abertura da reportagem local: “A crise de água que a Grande São Paulo vive hoje não é a primeira nem será a última. Por causa de limites naturais na disponibilidade hídrica, da poluição de rios e represas, da ocupação desordenada de mananciais, do descaso no uso e da falta de políticas eficientes para reeducar o consumo e reduzir perdas, a região só tem água garantida até 2010”.

 

A partir do momento que terminou a eleição, a crise foi colocada em evidência, todavia as justificativas do colapso do sistema de abastecimento de águas do Cantareira não se relacionam com o governador. Nas manchetes do jornal, o problema de abastecimento de água advém das mudanças climáticas, da má administração da Sabesp, da má conduta do governo federal, dos cidadãos negligentes, entre outros. Todavia, o psdbista reeleito não foi alvo do jornal.

 

Em meio a prefeituras que tiram 75% das duchas da orla para economizar água, agência federal que endurece normas de uso do sistema Cantareira, notícias da colaboração das chuvas no preenchimento dos reservatórios, entre outros fatos que contribuem com a solução da crise, a Região Sudeste segue tentando sobreviver. As matérias mostram que medidas estão sendo empregadas. Mas elas são ineficazes. Ou paleativas, como preferem veicular. O mais curioso é saber que o Brasil é um país que exporta soluções na área de recursos hídricos. Essa informação é do ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) e presidente do Fórum Mundial da Água (WWC), Benedito Braga, em entrevista ao brasilianas.org, realizado na Tv Brasil no dia 12 de maio de 2013. Ou seja, o Brasil é exportador de ideias contudo não é praticante das mesmas.

 

Mediante tais circunstâncias, é possível perceber o tamanho da complexidade na qual nós, brasileiros, vivemos. Analisar a Folha nos faz perceber que possuímos legislações altamente complexas e sofisticadas, porém não as conseguimos colocar em prática, pois as diversas instituições não conversam entre si e quando conversam têm os seus discursos alterados pela mídia. E percebemos também que o jornalismo feito à maneira da Folha de São Paulo é parcial e, por isso, os interesses de seus donos está acima da apuração da informação. 

 

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