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A crise hídrica de Alckmin

 

Cobertura feita pelo jornal ‘O Estado de São Paulo’ procurou “aliviar” a responsabilidade e a falta de ação por parte do governo do estado 

 

Bruna Perales

 

Há cerca de dois meses a mídia vem cobrindo massivamente a crise hídrica que tem castigado o Estado de São Paulo por conta da seca na reserva do Sistema Cantareira. Podemos dizer que a cobertura sobre a crise feita pelo ‘Estadão’ foi imparcial? É possível notar o posicionamento político do veículo nas reportagens?

 

Analisando o jornal ‘O Estado de São Paulo’, que possui uma linha editorial conservadora e de direita, percebemos que sua cobertura sobre o assunto se esforçou para “aliviar” e retirar das costas de Geraldo Alckmin, governador reeleito de São Paulo, a responsabilidade da má administração e consequente sucateamento da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

 

O desespero de milhares de paulistas, que já sofriam sem água em suas residências há meses, só veio à tona nos noticiários uma semana após o tucano ser eleito com 57% dos votos. O mesmo ocorreu em relação ao problema da Sabesp. No final do ano passado, quando a crise começou a ganhar maior notoriedade, o jornal se focou na crise geral, destacando a Região Sudeste. Além disso, o jornal também se focou em matérias que incentivavam o racionamento de água e defendiam a multa decorrente do desperdício; propostas essas que foram feitas pelo governo do estado.

 

Atualmente, as matérias sobre a crise têm perdido espaço no jornal. Se formos comparar com a sua concorrente direta, a ‘Folha de São Paulo’, não é possível encontrar boxes ou infográficos sobre o assunto. As reportagens mais recentes funcionam como um boletim, o qual informa a porcentagem do nível do Cantareira. O veículo procura focar na política do racionamento por parte da população sem se quer mencionar que o maior gasto se dá por parte das indústrias.

 

O que preocupa o PSDB é a migração ou diminuição das empresas, e isto está claro nas matérias do Estadão, afinal, este é o jornal mais antigo de São Paulo em circulação e também comandado pela família Mesquita que tem relações estreitas com empresários e políticos do partido tucano.

 

Na matéria intitulada “Chuva faz reservatórios de água subirem em SP”, publicada no dia 8/03/2015, não é mencionado o fato dos vazamentos da Sabesp causarem cerca de 30% da perda de água tratada de SP. Ou seja, o consumo doméstico não é, isoladamente, a grande fonte de gasto. Em muitas publicações online ou impressas, em programas de TV e de rádio, percebe-se a falta de amarração conceitual sobre o direcionamento editorial e a relação com o leitor. É comum, ao navegar por sites jornalísticos ou folhear publicações impressas e ler notícias, matérias, reportagens, artigos, notas, seções, o leitor ficar desnorteado com a situação.

 

As perguntas são inevitáveis: qual a intenção ao publicar isso? Com quem esses jornalistas estão tentando se comunicar? Vemos que de certa forma, isso aconteceu com o ‘Estadão’ que mudou seu direcionamento no caso Sabesp. Tomei como exemplo a matéria do dia 10/03/2015, intitulada “Pressionada, Sabesp divulga lista de grandes consumidores de água”, a qual mostrou as grandes indústrias que possuem contrato firme com a Sabesp e que são as maiores consumidoras de água. 

 

Como parte da sua linha editorial, não é cobrada uma posição do governo perante a situação dramática que os paulistas vivem hoje. O que vemos são matérias sobre a situação climática, como isso tem afetado o Cantareira e alternativas para evitar o desperdício da água. Entre os conceitos básicos para uma cobertura jornalística está a imparcialidade. Analisando a cobertura feita pelo ‘Estado de São Paulo’ não se pode afirmar que essa neutralidade tenha acontecido. Os interesses políticos e financeiros infelizmente dominaram a imprensa. 

    
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