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A crise hídrica superficial

 

A Veja não omitiu fatos, ela apenas deixou de lado a crise hídrica. Tirando a relevância do caso e desinformando o leitor 

 

Aline Oliveira

 

Todo mundo sabe que o Brasil está sofrendo uma crise hídrica. Até uma pessoa desinformada deve ter, no mínimo, um pouco de conhecimento sobre o assunto. O normal é que as pessoas procurem mais informações nas mídias, sejam elas advindas da televisão, rádio, plataformas digitais, jornais ou revistas. Porém quero me dedicar à uma revista que por uns é amada e por outros é odiada, a Veja.

 

Este texto baseia-se na análise de dez edições da revista, de dezembro (2014) a março (2015). Sabe o que foi encontrado a respeito da crise? Quase nada. Sim, isso mesmo! Um parágrafo sobre a situação do Cantareira para a edição da retrospectiva 2014, uma matéria de duas páginas ali, algumas notinhas aqui e, finalmente, uma matéria especial. Ou seja, quase nada foi escrito haja vista a importância da temática. Chega a ser um pouco assustador a forma como uma revista conhecida pela maioria dos brasileiros deixou de lado algo tão relevante. Um assunto que precisa ser levado a sério tanto pelo povo quanto pela mídia.

 

Em dez edições, apenas três mencionam com mais afinco a cerca do colapso hídrico. A primeira foi na edição 2406. Esta fez uma retrospectiva de tudo o que aconteceu no Brasil e no mundo no ano passado. Mas além do Cantareira receber pouco destaque, tudo foi escrito de modo superficial em apenas um parágrafo. 

 

A segunda edição a falar da falta de água foi a 2410. A matéria especial da Veja tinha o seguinte título “Vai faltar água, vai faltar luz, mas sobra indignação”. No decorrer do texto podemos notar que a revista abriu o debate sobre o fato de o governo não ter tomado providências adequadas que beneficiem a população. Desse modo, a Veja realmente quis se aprofundar no assunto. Em “15 respostas fundamentais sobre a crise”, são sanadas as dúvidas que assombram os brasileiros. Por exemplo, se a água irá acabar de vez, se é uma situação irreversível, se a água do volume morto é potável, entre outras questões. Essa publicação em específico fez um ótimo trabalho na cobertura da crise hídrica, contudo não seguiu esse mesmo padrão nas tiragens seguintes.

 

Em uma edição mais recente - a 2415 -, a crise recebeu um espaço de duas páginas. O título era “Vai dar para escapar”. O texto parabenizava os moradores da grande cidade de São Paulo por economizarem e reutilizarem a água. Em frases como “o governador Geraldo Alckmin foi superado pela população na capacidade de tomar providências para minimizá-la [...] Enquanto isso, a população tratou de adotar as medidas que estavam ao seu alcance”, a matéria condenou o governo de São Paulo pela demora em tomar medidas que revertessem a situação. O governo deixou a desejar nas medidas preventivas, entretanto dizer que eles não conscientizaram a população chega a ser um tanto ridículo. Pois há, também, uma parcela de culpa dos cidadãos que só começaram a evitar o desperdício de água a partir do momento que foram alertados pelo governo.

 

Nas outras sete edições mal foi mencionada a falta de água. Assim, a Veja mostrou muito descaso com o problema hídrico e sua cobertura sobre o caso foi totalmente superficial. É irônico pensar que Veja fez uma matéria sobre a Andressa Urach e o hidrogel (edição 2413, do dia 18 de fevereiro) e não mencionou na mesma edição a crise hídrica. Portanto, por mais que a agenda setting paute temas e muitos outros sejam “relevantes”, nada justifica o fato da crise hídrica ter sido esquecida e colocada de lado pela semanária.

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