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A esquerda na corda bamba

 

Carta Capital não dita o que o leitor deve saber, mas o faz refletir sobre fatos que são de interesse editorial

 

Rafael Acosta

 

Equilibristas fascinam. Seus reptos são: não cair da perna de pau, do monociclo ou da corda bamba – essa última, para mim, a atração mais impressionante. Caminhando sobre uma corda esticada de uma extremidade do palco a outra, realizam as mais diversas peripécias, demonstrando destreza e equilíbrio. E para fazer isso, o artista tem que ter destreza para distribuir seu peso entre as diferentes partes do corpo, nivelando o mesmo a fim de obter estabilidade. Quanto maior a altura, maior é a habilidade exigida.

 

Nas últimas semanas a revista Carta Capital estampou em suas capas a crise na Ucrânia, a “Rebelião do PMDB”, o crescimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) e suas ações, e até a jornalista Raquel Sheherazade – para alguns, musa do moralismo e conservadorismo. Tratam-se de assuntos relevantes para a sociedade, afinal, estamos falando de crises políticas de ampla repercussão, uma possível guerra civil e uma comunicadora cujos comentários tem causado certa polêmica entre alguns. Como sempre, suas pautas são as mesmas de outros produtos jornalísticos: coisas do cotidiano.

 

Não é segredo que a revista do carcamano Mino Carta possui linha editorial de esquerda, todos sabem disso. A parcialidade está impregnada em cada uma de suas páginas. Até no modo de escrita, “presidenta”, por exemplo. É assim que a Carta Capital escreve o título da Dilma Rousseff, e não “presidente”. Não há nenhum erro ortográfico nisso, concordo. Mas não acho usual tal palavra. Já reparou que normalmente petistas falam assim?

 

Mas deixando a gramática de lado e voltando ao objeto desse artigo (Carta Capital), ao invés de manipular, omitir e jogar com as informações para se beneficiar, Carta Capital traz reportagens de repercussão na mídia, porém, apresentadas com um viés mais de esquerda. Nesse caso, a crítica fica por conta do próprio leitor que, a partir da análise da revista, deve julgar por si mesmo o peso de tais acontecimentos. Algo difícil de fazer num ambiente midiático onde o público está acostumado e ingerir tudo que lhe é ofertado sem questionar nada.

 

Carta Capital poderia fazer o mesmo que muitos veículos de comunicação: ditar o que devemos pensar, como pensar e o que pensar sobre os fatos noticiados. Mas não o faz. Ela se vale dos fatos já noticiados para propor uma análise dos mesmos, e claro, propagar suas ideias, proporcionando uma reflexão sobre os fatos que lhe interessam. Primeiro ela oferece a “comida” para seus leitores, faz com que eles “cheirem”, sintam o “sabor” para só depois, se quiserem, ingerir suas ideias.

 

E fazê-los sentir, pensar e conversar sobre assuntos relevantes para sociedade é tarefa difícil, coisa de equilibrista. Principalmente porque a revista não abarca uma fatia tão grande do mercado, como suas concorrentes. Na corda bamba, não no sentido de “prestes a cair”, mas no sentido de “na posição de atração” e “equilibrando-se”, distribui o peso de manter o leitor informado e reflexivo diante dos fatos e permanece em pé.

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