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Para um “quase-pensante”, uma “quase-informação”

 

O Estado de São Paulo e sua manipulação direitista, elitista, ista

 

Anne Seixas

 

Entre uma publicidade ou outra, fica claro: O Estado de São Paulo é um veículo de direita, voltado para classe AB. Pode ser enfática essa afirmação, mas ao passar os olhos por duas ou três manchetes, qualquer leitor minimamente politizado e estudado identificaria essa posição editorial.

 

Vimos, logo de início, duas matérias que falam sobre o PT (Partido Trabalhista). A primeira, sobre a crise PMDB-PT. Ali, nota-se a clara oposição entre o opressor trabalhista e o insatisfeito democrata brasileiro. Mais abaixo, uma “quase notinha” lembrando a não cessão de um terreno público ao Instituto Lula.

 

Lembrando que este Instituto previa construir um museu para deixar para a posteridade a vida política do que o batiza, não é de se espantar que “Tribunal mantém veto à cessão de terreno para Instituto Lula” esteja na página inicial do portal. E onde quero chegar com isso? Bom, quero mostrar o que o Estadão quer que você pense.

 

Existe uma teoria antiga, chamada Agenda Setting ou Teoria do Agendamento, que explica esse movimento. Para Nelson Traquina, em Teorias do Jornalismo: Porque as Notícias são como são (2004), a forma como as notícias aparecem para o leitor determina como e quando o veículo, munido de sua posição política, deseja que a notícia chegue. A partir daí, inicia-se a manipulação da massa. No caso do Estadão, esses leitores, pressupõe-se, estão condicionados ao pensamento direitista, logo, tendem a concordar veementemente com a posição do jornal.

 

Voltando às manchetes, e atualizando a página inicial do portal, mais notícias sobre política enchem as colunas. Fotos, vídeos, audios, textos, todos voltados a um público elitista. Notícias sobre arquitetura, música, lançamentos cinematográficos e tudo mais que passa longe de uma publicação popular, fazem parte do conteúdo selecionado que o Estado de São Paulo quer que seus leitores devorem. Um adendo: a notícia sobre a tensão PT-PMDB foi substituída por uma declaração amena de Valdir Raupp, senador e presidente nacional do lado democrata. Lá, diz ele, a culpa dos ânimos elevados no Planalto é do Carnaval. Mais uma vez, não é de se admirar.

 

Uma semana depois, é a vez de Temer, pressionado por ambos os lados, se pronunciar. O vice-presidente da República tranquiliza colegas de partido dizendo que vai acatar todas as suas reivindicações, contudo, sem desagradar a líder petista. Todo o texto traz um tom de Michel ameaçado, acuado e amedrontado, tanto pela presidenta como por seus copartidários ávidos por um cargo em algum ministério estratégico.

 

Em uma política nada confiável e uma mídia extremamente tendenciosa, por a culpa no feriado e na farra é muito fácil. A matéria da crise PMDB-PT, depois de 5 minutos, muda o título e diz que a presidenta Dilma convocará uma reunião no domingo com toda a alta cúpula do governo. Essa mesma informação já estava no texto anterior.

 

E a que conclusão poderíamos chegar com isso? Usando uma citação do criador da Teoria do Agendamento, acho que posso me fazer entender: "Quando todos estão pensando igual, é porque, na realidade, ninguém está pensando", Walter Lippmann.

 

Isso faz algum sentido para você? Quando um veículo escolhe a ordem, destaque e conteúdo de sua linha editorial, o objetivo é apenas esse: que você seja mais um pseudo-pensante da massa, em busca de uma opinião bonita para as conversas de elevador. Afinal, entre posts no Facebook e rodas de amigos, pra quê mesmo uma posição política embasada? Discutir, e pensar, dá muito trabalho.

 

Qual sua posição política? Fique bem atento. Ela pode mudar de acordo com o jornal que lê. Se você for de direita, fique de olho no Estadão. E se quiser ser, também.

 

Uma semana depois, o portal ainda tem uma vasta lista de notícias sobre as tensões políticas do momento. Agora o contexto é a redução no fornecimento de água pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Nesse caso, o governo estadual, comandado pelo PSDB, acusa a prefeitura da capital paulista, do PT, de reduzir a demanda de água fornecida aos 364 dos 645 municípios do estado atendidos pelo reservatório do Sistema Cantareira. Este é um dos mais atingidos pela estiagem dos últimos meses.

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