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Relações de controle 

 

Aline Ludtke

 

Ao assistir o documentário brasileiro Mídia, poder e sociedade, produzido pela TV Senado em 2005, o espectador se vê dominado e, consequentemente movido a refletir, sobre uma série de questões éticas e filosóficas relacionadas ao "fazer" mídiático em terras tupiniquins. Acima de tudo, fica a sensação, incapaz de ser desconsiderada, de que nossa mídia não é o quarto poder (aquele que, por definição, fiscaliza os demais poderes), mas sim, mero instrumento dos poderes nacionais.

 

“O jornalismo brasileiro é medíocre” contrasta com “é uma imprensa boa, apesar de seus defeitos”. Como classificar a mídia brasileira? Num cenário político bastante conturbado, questões como  imparcialidade e sensacionalismo nos meios de comunicação surgem à tona, inevitavelmente. E com elas, as já típicas comparações entre diferentes veículos quanto a sua abordagem e cobertura nos acontecimentos. Como ter certeza sobre a verdade?

 

Antes, porém, de começar um julgamento da comunicação brasileira, é preciso lembrar-se de seu histórico diretamente ligado ao desenvolvimento da nação. Atrasada em relação a muitos países do próprio continente e rigorosamente controlada, a imprensa demorou para conquistar seu lugar. Alcançava apenas uma pequena parte da população, pois a maioria não sabia ler. Surge então o rádio, que rapidamente se popularizou. As estações, no entanto, eram concedidas pelo governo, o que acabava por constituir-se uma espécie de controle. Assim como com a televisão, décadas depois.

 

Tendo a história como base, é possível entender a relação de amor e ódio entre política e mídia. Em troca de espaço, os veículos de comunicação podem ceder apoio ao governo, mas ao mesmo tempo, pela fidelidade (que deveria existir) do jornalismo à verdade, não se podem silenciar diante de abusos, fraudes e crimes cometidos por quem detém o poder. É bem verdade que, no quesito política, a mídia deixou de apenas transmitir acontecimentos, mas passou a ser um palco onde tudo acontece. Tanto que é vista como o órgão que pode eleger ou destituir do cargo. No entanto, quando interesses comerciais sobressaem aos princípios éticos, a função de um veículo de comunicação perde seu sentido, que é o de justamente fiscalizar e mostrar ao espectador o que seus olhos não alcançam.

 

‘Espectador’, na verdade, não seria a palavra correta. Ouvinte, telespectador e leitor, apenas, não deveriam definir quem usufrui de programas transmitidos via rádio, televisão ou através da página impressa. Apesar do compromisso com a verdade que caracteriza um meio de comunicação, o receptor não pode contentar-se em receber e assimilar o conteúdo de forma ingênua. De forma participativa, é preciso que ele busque formar um senso crítico capaz de distinguir a massa de informações veiculadas todos os dias. Se a mídia fiscaliza o poder, a sociedade é quem controla a mídia. Afinal, quem vive a história pode contá-la melhor do que quem apenas viu ou ouviu falar. Isso quer dizer que mesmo infiltrar-se no meio de uma multidão não garante uma visão integral dos fatos.

 

Além de fatores básicos como esses, está a questão de até que ponto as discussões em pauta nas Câmaras e o assunto das rodinhas nas esquinas das ruas são dirigidas pela mídia. Devendo exercer uma função de mediadora, como sugere o nome originado no latim, plural de medium, as escolhas de manchetes e notícias que ganharão destaque tem se mostrado contraditórias a esse papel. Principalmente quando vemos temas abordados em programas de entretenimento ofuscando pequenas notas sobre importantes processos políticos do país, quando polêmicas sociais supérfluas roubam a cena em detrimento de significativos debates sobre o futuro do país. É quando se percebe o cuidado que se deve ter ao confiar na mídia como fonte segura e imparcial de informação, mas sobretudo, ao jornalista, lembrar-se de séculos passados, nos quais, de Londres, surgia, com muito esforço, o embrião do jornalismo brasileiro.

 

Ficha técnica

Duração: 57 min.

Roteiro e direção: Aluízio Oliveira.

Produção e assistência de direção: Márcia Torres.

Direção de Fotografia: Helder Miranda.

Som e Luz: Marcos Silva.

Edição: César Mendes e Aluízio Oliveira.

Edição de imagens: Marcílio Soares e Márcio Stuckert.

Finalização: Márcio Stuckert.

Coordenação: Chico Sant´anna.

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