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Veja e leia, assim eu te digo o que pensar

 

A mídia brasileira é especialista em dizer como as pessoas devem interpretar as notícias. Na mídia impressa, representada por sua maior revista, não é diferente. Uma tênue linha entre o que é informação e o que é opinião que a Veja ainda não aprendeu a respeitar

 

Douglas Pessoa

 

São mais de um milhão de exemplares circulando por todo o país a cada semana, segundo o site publiabril.com. Em assinaturas e publicidade a arrecadação bate a casa dos milhões de reais, isso sem contar os exemplares que são vendidos avulsos graças a matérias de capa que não muito chamativas e, no mínimo, apelativas em algumas vezes. Nessa perspectiva, a revista Veja pode se considerar um sucesso editorial. Manter um número desses de tirarem em um mundo onde cada vez menos as revistas são lidas não é para qualquer um. Segundo o site Observatório da Imprensa, das 23 revistas da editora Abril, 18 delas ficaram estagnadas ou diminuíram o número de assinaturas, um quadro não muito comemorável.

 

A revista Veja que tem uma tiragem estratosférica (1.100 exemplares em média segundo a Publiabril) se diz indispensável para o Brasil que queremos ser carrega uma responsabilidade de igual tamanho nas costas. O veículo que deveria mostrar aos brasileiros matérias puras do que realmente está acontecendo no país tem exibido apenas editorias cada vez mais desequilibradas e opinativas. A teoria do Agenda Setting funciona bem na revista Veja. A ideia de que a notícia só é o que é porque a mídia nos diz como pensar sobre os fatos noticiados está bem presente na publicação da Abril. Os exemplos são inúmeros!

 

Na edição de agosto de 2012, numa reportagem de capa sobre o vídeo feito por atores da Globo que são contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, a revista ridicularizou-os logo na capa. A linha fina dizia “artistas ecochatos que são contra o desenvolvimento.” A revista tomou para sim um trabalho que é do leitor. Quem tem que dizer se os artistas globais são “ecochatos” ou “ecolegais” é o Sr. Leitor. Assim, a revista colocou a ideia nos seus consumidores de que qualquer um que for contra a construção da usina é contra o desenvolvimento do país. Esse tipo de interpretação não cabe ao Periódico que se diz indispensável para o Brasil.

 

Outro exemplo mais grave é a recente edição da revista do dia 06 de março de 2014. Na matéria de capa, Veja convoca os brasileiros a ficarem tristes e até enlutados pela decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal que considerou que não houve formação de quadrilha no caso Mensalão. O periódico publicou em seu editorial que os seus textos são responsáveis por mostrar a opinião da revista sobre o episódio. Um notável exemplo de Agenda Setting. Ou seja, em Veja, o leitor não precisa interpretar a notícia, precisa apenas concordar com a mesma.

 

Além disso, em todas as inúmeras publicações da revista sobre o caso Mensalão, ela sempre tem convocado seus leitores para odiarem os membros do PT com matérias que os demonizam. Enquanto isso, a revista faz com que a população não seja bem informada dos escândalos envolvendo políticos de ideologia de Direita, como no caso de formação de cartel no metrô de SP. Em vez de mostrar a corrupção no nosso país como um todo, a Veja, que interpreta as notícias à sua maneira, faz com que os leitores tenham uma ideia deturpada da corrupção política no Brasil. Isso sim é um desserviço à sociedade.

 

Assim, a revista Veja não dá oportunidade para os seus leitores adquirirem um pensamento crítico sobre os principais acontecimentos do país. Ela pratica um jornalismo opinativo disfarçado de imparcialidade. Com sua ideologia política alinhada a Direita, Veja não mostra os dois lados da moeda fazendo com que seus leitores concordem com sua opinião. E esse tipo grotesco de jornalismo é totalmente dispensável .

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