Terrorismo alimentado pelas mídias
Grupos terroristas usam a mídia de maneira estratégica a fim de atrair simpatizantes e ameaçar a segurança internacional
Daniela Fernandes
O terror recebeu os holofotes do mundo graças a uma organização chamada Al-Qaeda que significa “A base”. Fundada na Arábia Saudita em 1988, teve como líder-mentor Osama Bin Laden. Sua ideologia é baseada no fundamentalismo islâmico e seu objetivo é diminuir ou neutralizar a influência de países não-mulçumanos no universo do Islã. Aproximadamente 20 mil homens compõem o grupo, responsável por coordenar (em 2001) o maior e mais famoso atentado terrorista já perpetrado: o "11 de setembro".
Na manhã do referido dia, quatro aviões comerciais de passageiros foram retidos por dezenove terroristas. Duas aeronaves colidiram propositalmente com as Torres Gêmeas, prédios que se localizavam no complexo do World Trade Center, em Nova Iorque (EUA). O terceiro avião se chocou com o Pentágono, sede do Departamento de Defesa do país, e o quarto aeroplano caiu em campo aberto, na Pensilvânia. "Eu perdi amigos - pessoas que me amavam. Eu as amava também. Muitos deles foram heróis que trabalhavam como bombeiros ou policiais naquele dia”, lamenta Dara Lipari, professora de artes para crianças. Quase três mil pessoas morreram nos ataques, incluindo civis e sequestradores.
Quando o "11 de setembro" aconteceu, a Al-Qaeda recebia apoio do Talibã, movimento também alicerçado no fundamentalismo islâmico. O regime assumiu o governo no Afeganistão entre os anos de 1996 e 2001, porém teve seu poder suprimido pelos EUA durante a campanha militar contra Bin Laden. Hoje, atua no Kandahar, Afeganistão e noroeste do Paquistão, entretanto não possui a mesma influência do passado.
Dos 2 mil atentados ocorridos nos últimos 27 anos, mais de 86% aconteceram depois do "11 de setembro".
Definição do termo
Segundo definição divulgada pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o termo "terrorismo" pode ser empregado a atos de sabotagem, preparação de quadrilha e grupos terroristas. Helvécio de Jesus Junior, professor de Relações Internacionais da Universidade de Vila Velha - UVV, afirma que “não existe um conceito universalmente aceito sobre a palavra terrorismo. Em termos de política internacional, ainda não existe um tratado ou uma convenção no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) onde todas as nações concordam plenamente com o conceito de terrorismo. Isso é um problema, já que alguns países adotam uma definição mais ampla e outros não, fato que dificulta uma política única de contraterrorismo”, enfatiza.
Políticas de combate
Assim como não há uma harmonia entre as nações ao conceituar o terrorismo, as políticas de combate também não são harmônicas. “Atrelar os terroristas somente ao Islã pode resultar em ações de combate ao terrorismo, na maioria das vezes, equivocadas e injustas”, diz o coordenador do curso de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, em vídeo-aula ao Jornal Hoje do dia 19/05/2011. Essas políticas dividem-se em duas grandes vertentes: o antiterrorismo e o contraterrorismo. O primeiro adota medidas ofensivas e o segundo opta por ações defensivas.
A desarmonia se deve, além disso, aos contextos históricos vivenciados por cada país. “É muito criticada a forma como os americanos definem o terrorismo, no entanto, são países que de fato vivem sob ameaça restrita do terrorismo, não só nas suas bases militares ao redor do mundo, como também no seu território. Foram atacados em 11 de setembro de 2001 no próprio território americano, então é óbvio que eles terão uma sensibilidade muito maior para a definição do terrorismo. Além de suas leis de segurança nacional serem mais severas”, explica.
Em situações conflituosas e de antagonia, os serviços de inteligência entram como atores indispensáveis. Quanto mais grave a situação, mais o órgão se torna importante. No Brasil, a Abin faz o acompanhamento de pessoas consideradas suspeitas e tem implementado ações na Tríplice Fronteira. Porém, para Jesus Júnior, ainda falta muito investimento para tentar melhorar a política brasileira de fronteiras. “As políticas de fronteiras no Brasil nunca foram boas. Apesar da dificuldade de monitoramento devido ao gigantismo, nunca tiveram um controle eficaz. O problema não é apenas a questão das fronteiras, na minha opinião é do alinhamento ideológico que se faz e que se coloca acima da questão de segurança nacional de soberania”, diz.
Vítimas x sobreviventes
O terrorismo pode advir tanto de uma minoria sobre uma maioria quanto o contrário. Oprimidos e injustiçados escolhem causar pavor e medo a fim de saírem da condição de submissão. Acreditam que por meio do terror podem atingir seus objetivos com mais eficiência e rapidez. Há exemplos de diversos grupos extremistas em torno do mundo, como o IRA no Reino Unido, o Sendero Luminoso no Peru, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Boko Haram na Nigéria, entre outros.
Entretanto o contrário também é verdadeiro e acontece com certa frequência. Determinados Estados-nação cumprem esse papel de adotar ações terroristas. Às vezes de modo encoberto. Assim, essa postura origina-se de poderes estabelecidos e vigentes que, através de forças coercitivas, corroboram seu poder de influência e intimidam os já subordinados.
Desse modo, é preciso considerar que, independentemente da maneira pela qual se gera o terrorismo, a principal consequência é o número abusivo de vítimas civis. Quando alguém sobrevive é quase impossível compreender a situação passada. É o que explica Dara Lipari, sobrevivente do atentado de 11 de setembro : “O que vou dizer agora, só um sobrevivente pode entender de verdade. Nós chamamos isso de lamento-sobrevivente. Eu tive a chance de viver. Na época, estava grávida e recebi um presente de Deus. Sair viva. Mas por qual razão eu vivi e eles morreram? Meus amigos eram pessoas melhores do que eu. Por isso, depois do ataque, eu resolvi trabalhar com crianças que gostam de arte. Assim, eu encontrei meu lugar no mundo, minha verdadeira função. Quero que eles saibam que são queridos e amados. Não sou mais uma pessoa egoísta. Se alguém precisar de algo, faço qualquer coisa para ajudar. Foi assim que eu segui em frente depois do trauma”, conta.
A mídia e o terrorismo
Os meios de comunicação disseminam conhecimento e educam transpondo fronteiras. E, por isso, um dos ganhos obtidos é a universalização das informações veiculadas. Os novos terroristas tem aproveitado dos artifícios proporcionados pelas mídias. “Através delas, esses grupos conseguem alterar as percepções de poder, revertendo a concepção que a opinião pública tem sobre as guerras. A ideia é que o fraco pareça forte e o forte pareça fraco”, diz Nasser.
Grupos terroristas usam a mídia de maneira estratégica a fim de atrair simpatizantes e ameaçar a segurança internacional. O uso das imagens alimenta o terrorismo e potencializa a destruição em massa.