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Libertinagem ou liberdade?

 

Thamires Mattos

 

Uma geração que almejava a igualdade social e queria acabar com o capitalismo acabou ficando obcecada pela busca de seus objetivos. Medidas drásticas, sacrifícios pessoais e mortes, inclusive de civis, seriam necessárias para que o sonho de uma Alemanha sem traços de fascismo existisse. A Fração do Exército Vermelho (em alemão: Rote Armee Fraktion), também conhecida como Grupo Baader-Meinhof foi fundada no início dos anos 1970 por Andreas Baader, Gudrun Ensslin, Ulrike Meinhof e Horst Mahler. Auto descrita como uma “guerrilha urbana comunista” e “antifascista” durou até 1998, contando com três gerações de líderes.

 

No entanto, a história da Fração do Exército Vermelho é uma daquelas que vale a pena ser vista. Em 2008, dez anos após o fim das atividades do RAF, o filme alemão O Grupo Baader-Meinhof, baseado no best-seller homônimo de Stefan Aust, resolveu abordar as relações entre os membros da guerrilha, seus conflitos e os atentados. Dirigido por Uli Edel (já conhecido pelo longa-metragem “Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída”), conta com Moritz Bleibtreu no papel de Andreas Baader, Martina Gedeck como Ulrike Meinhof, Johanna Wokalek como Gudrun Ensslin e Simon Licht representando Mahler.

 

Ao mostrar a vida dos guerrilheiros, o filme retrata o poder de uma ideologia. Gudrun Ensslin era incompreendida e até rechaçada pelos pais até que foi presa pela primeira vez, ao realizar um ato terrorista. Em declaração a um repórter, a mãe diz que se sentia bem pela primeira vez em muito tempo – “Ela me libertou de um medo”. Que medo? Provavelmente o terror a ficar parado, sem fazer nada, enquanto certos tipos de sistemas criam marionetes. A mãe de Gudrun não queria ser controlada, mas também não fazia nada a respeito.

 

Para convencer Ulrike a entrar para a RAF, Gudrun usa o seguinte argumento: “Você deve se libertar do sistema e queimar todas as pontes atrás de você”. Não se apegar a ninguém e a nada – apenas à causa. Um lema, um objetivo de vida. Isso liberta as pessoas do medo. A impotência perante o sistema some. A ação é o guia. Meinhof é retratada como uma meticulosa estrategista e pensadora política, enquanto Baader, com sua impulsividade e espírito “livre”, coloca em perigo muitos planos do grupo. O conflito entre liberdade e libertinagem é expresso com muita força entre esses dois personagens.

 

O filme retrata apenas a primeira geração da RAF e o início da segunda. Antes de morrer, Baader fala a um policial que as gerações que viriam aumentariam a “brutalidade nos ataques”. Que a luta por uma causa não nos faça perder o respeito pela vida, pelo próximo.

 

O longa-metragem também mostra a visão do chefe da força policial alemã da época. Horst Herold se caracteriza por possuir uma ampla visão dos fatos. Ele não se atém apenas aos problemas superficiais (no caso, os atentados), mas vai até suas raízes. Ele, talvez, tenha sido quem chegou mais perto de encontrar a causa das ações do RAF, já que, em diversos momentos, os membros do grupo se achavam confusos. “Em parte, é nossa ignorância que promove o terrorismo”. Ignorância essa que coloca, até hoje, os pensamentos críticos em tom de ameaças à segurança; faz de contestadores, vândalos e faz crescer uma mídia injusta, cheia de meias verdades e discurso do ódio. 

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